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Rússia sofre pressão da ONU para encerrar invasão
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Rússia sofre pressão da ONU para encerrar invasão

| DIPLOMACIA | Representantes de mais de uma centena de países devem passar pela tribuna até quarta, quando a Assembleia Geral vota resolução contra a invasão
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Sessão extraordinária da assembleia das Nações Unidas, na segunda-feira, 28 (Foto: MICHAEL M. SANTIAGO / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / GETTY IMAGES VIA AFP
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Foto: MICHAEL M. SANTIAGO / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / GETTY IMAGES VIA AFP Sessão extraordinária da assembleia das Nações Unidas, na segunda-feira, 28

No banco dos réus do cenário internacional, a Rússia defendeu nesta segunda-feira, na Assembleia Geral das Nações Unidas, a invasão à Ucrânia, durante uma reunião excepcional de emergência dos 193 membros da organização, onde houve múltiplos chamados pelo fim da guerra na ex-república soviética.

À cascata de sanções contra interesses econômicos, políticos e esportivos russos, sucederam-se na tribuna da ONU, em Nova York, chamados pelo fim das hostilidades na Ucrânia.

Paralelamente à reunião, os Estados Unidos deram novo passo, ao anunciarem a expulsão de 12 membros da missão diplomática russa nas Nações Unidas, acusando-os de espionagem.

"Basta! Os combates devem parar", declarou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, na abertura da sessão, convocada pelos defensores da legalidade internacional após o fracasso de sexta-feira do Conselho de Segurança, que não conseguiu condenar a invasão russa.

 Representantes de mais de uma centena de países devem passar pela tribuna até a próxima quarta-feira, quando a Assembleia Geral deve votar uma resolução em que "deplora nos termos mais fortes a agressão da Rússia à Ucrânia", após a alteração do termo "condena", segundo o rascunho do documento.

O texto, promovido pelos europeus em coordenação com Kiev e o apoio de mais de 70 países, é semelhante ao apresentado por Estados Unidos e Albânia e rejeitado por um veto russo no Conselho de Segurança na sexta-feira. Ele exige a retirada imediata das tropas russas da Ucrânia e o fim dos combates.

Após mais de oito horas de discursos, a sessão foi concluída e será retomada hoje às 15 horas no horário de Greenwich, 12 horas em Brasília.

Desde o início da invasão, a Rússia alega a legítima defesa prevista no artigo 51 da Carta das Nações Unidas. Após mobilizar dezenas de milhares de militares na Ucrânia e em seus arredores, com tanques, aviões de combate e navios, Putin evocou no domingo, implicitamente, a ameaça nuclear, provocando a indignação dos Estados Unidos e da Europa.

"Não foi a Rússia que começou esta guerra, estas operações militares foram iniciadas pela Ucrânia, contra os habitantes de Donbas (região separatista no leste do país) e contra todos que não concordavam com ela", defendeu o embaixador russo na Assembleia Geral.

Essa versão foi contestada pela maioria dos países que passaram pela tribuna. A embaixadora britânica, Barbara Woodward, condenou o que chamou de "guerra injustificada". Já o representante do Brasil, Ronaldo Costa Filho, declarou: "Estamos sob uma rápida escalada de tensões que pode colocar toda a humanidade em risco", acrescentando que "ainda temos tempo para parar isso".

"Se a Ucrânia não sobreviver, não nos surpreendamos se a democracia falhar", disse o embaixador ucraniano na ONU, Sergiy Kyslytsya. "Salve as Nações Unidas, salve a democracia e defenda os valores em que acreditamos", implorou em um discurso grave.

O representante chinês, Zhang Jun, afirmou que "não há nada a ganhar com o começo de uma Nova Guerra Fria, ressaltando que a mentalidade "baseada no confronto de blocos deveria ser abandonada. Deve-se respeitar a soberania e a integridade de todos os países, bem como o conjunto dos princípios da Carta das Nações Unidas."

Iniciada com um minuto de silêncio pelas vítimas da guerra, a essa reunião se somou outra, do Conselho de Segurança, durante a tarde, dedicada à situação humanitária na Ucrânia, onde, segundo a ONU, meio milhão de pessoas já tiveram que deixar o país por causa da invasão russa, e 102 já morreram no conflito.

França e México promovem nesse fórum uma nova resolução em favor do "fim das hostilidades", da "proteção dos civis", e que se permita a chegada de ajuda humanitária "sem obstáculos".

A Rússia também está na mira da ONU em Genebra, onde um debate urgente no Conselho de Direitos Humanos sobre a invasão à Ucrânia deve ocorrer na próxima quinta-feira.

A pressão também aumenta porque o procurador-geral do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, disse que vai abrir uma investigação "o mais rápido possível" sobre possíveis crimes de guerra e contra a humanidade na Ucrânia.

Segundo Khan, a investigação vai analisar supostos crimes cometidos antes da invasão russa, mas acrescentou que "dada a expansão do conflito nos últimos dias, é minha intenção que esta investigação também abranja quaisquer novos supostos crimes dentro da jurisdição do meu escritório que sejam cometidos por qualquer parte do conflito em qualquer parte do território da Ucrânia".

A chefe de direitos humanos da ONU, Michelle Bachelet, disse que seu gabinete confirmou que 102 civis, incluindo sete crianças, foram mortos na invasão russa e 304 outros ficaram feridos na Ucrânia desde quinta-feira. Nem a Rússia nem a Ucrânia estão entre os 123 estados membros do tribunal, mas a Ucrânia aceitou a jurisdição do tribunal, o que autoriza Khan a investigar. (AFP e Agência Estado).

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