Milhares de palestinos empacotaram seus pertences às pressas e fugiram de casa no norte da Faixa de Gaza ontem, horas depois de os militares israelenses exigirem que mais de um milhão de civis se mudassem para o sul do território, indício de uma possível invasão por terra. O prazo inicial dado, de 24 horas, se esgotou ontem. Em paralelo, militares israelenses fizeram incursões pontuais em busca de reféns sequestrados pelo Hamas há uma semana.
Parte dos civis do norte relutava em deixar suas casas e ir para o sul, que tem ainda menos recursos, por meio de rotas já danificadas por uma semana de bombardeios. O Ministério da Saúde palestino em Gaza disse ontem que ataques aéreos mataram pelo menos 40 palestinos que tentavam fugir do norte de Gaza de carro pela rodovia principal. O Hamas rejeitou o ultimato de Israel e pediu para que os palestinos "se mantivessem firmes".
Em um raro pronunciamento na TV durante o Shabat, dia sagrado para os judeus, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que os bombardeios contra Gaza são "só o começo da resposta à sangrenta ofensiva do Hamas contra Israel". "Nossos inimigos apenas começaram a pagar o preço. Não posso divulgar o que vem em seguida, mas vou dizer-lhes que isso é só o começo", declarou Netanyahu.
Grupos de ajuda humanitária alertaram para uma catástrofe e disseram que a ordem de Israel era ilegal segundo o direito internacional. As Nações Unidas também alertaram que o deslocamento de mais de um milhão de palestinos levaria a "consequências devastadoras" e afirmaram que a sua prioridade era negociar com Israel para permitir a abertura de um canal humanitário para entrega de ajuda essencial, incluindo água. O Conselho de Segurança da ONU, presidido pelo Brasil, se reuniu ontem para tratar do tema. O encontro terminou sem uma resolução.
A concentração de 35 batalhões na fronteira de Gaza alimentou durante dias especulações de que Israel estaria se preparando para invadir o território controlado pelo Hamas em resposta à incursão do fim de semana, que matou mais de 1,3 mil israelenses. O grupo terrorista sequestrou e mantém sob seu poder cerca de 150 reféns.
Os ataques aéreos retaliatórios de Israel desde sábado, mais mortíferos e mais generalizados do que nas suas campanhas anteriores em Gaza, destruíram bairros e levaram o sistema médico à beira do colapso.
Ainda ontem, o Exército israelense fez as primeiras incursões pontuais dentro da Faixa de Gaza na tentativa de encontrar reféns e atacar terroristas do Hamas na região.
A área inclui a Cidade de Gaza, que o Exército israelense chamou de "uma área onde ocorrem operações militares" e onde anunciou que "continuará a operar de forma significativa". "A mesma ordem de retirada foi aplicada a todos os funcionários da ONU e àqueles abrigados em suas instalações - incluindo escolas, centros de saúde e clínicas", disse o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric.
Em uma declaração no Telegram, o Hamas disse aos palestinos para não atenderem às exigências. "Israel está se concentrando na guerra psicológica para atacar nossa frente doméstica e expulsar cidadãos", disse o Ministério do Interior de Gaza.
Em resposta, o principal porta-voz militar de Israel, o contra-almirante Daniel Hagari, disse que a responsabilidade pelo que acontecer aos residentes que não deixarem a metade norte do enclave recairá "sobre a cabeça daqueles que lhes disseram para não se retirar". (Agência Estado, com agências internacionais)