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Francisco, o papa da humildade e resistência
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Francisco, o papa da humildade e resistência

Com um pontificado de 12 anos, Francisco imprimiu a marca do povo na Igreja Católica, aproximando a Santa Sé da realidade do século XXI e tocando em temas que moveram o debate público ao longo da década
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PAPA FRANCISCO - CAPA 01 (Foto: FILIPPO MONTEFORTE/AFP)
Foto: FILIPPO MONTEFORTE/AFP PAPA FRANCISCO - CAPA 01

 

 

Tudo morre, mas não perderemos nada do que construímos e amamos

 

O primeiro papa latino-americano da história iniciou sua história no trono de São Pedro com a marca da simplicidade. Foi pioneiro em muitos aspectos, inclusive por ter sucedido um pontífice que ainda estava vivo. A última vez que isso ocorreu foi há mais de 600 anos.

O até então cardeal argentino Jorge Bergoglio, de 76 anos, foi proclamado Papa para surpresa de muitos na quarta-feira 13 de março de 2013, após dois dias de conclave. 

 Jorge Bergoglio, de 76 anos, foi proclamado Papa na quarta-feira 13 de março de 2013(Foto: FILIPPO MONTEFORTE/AFP)
Foto: FILIPPO MONTEFORTE/AFP Jorge Bergoglio, de 76 anos, foi proclamado Papa na quarta-feira 13 de março de 2013

No dia seguinte, o padre que agora chamava-se Francisco "O nome foi inspirado em São Francisco de Assis, e lembrado por Bergoglio depois que o arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes, o abraçou após o conclave e pediu para que ele não esquecesse dos pobres" , chegou no início da manhã à basílica de Santa Maria Maior para uma breve oração, onde dezenas de curiosos o esperavam para uma saudação.

Dentro do templo, o novo Papa fez uma oferta de flores à Virgem em uma pequena capela, como havia prometido na quarta-feira na sacada da Basílica de São Pedro, onde milhares de pessoas celebraram sua proclamação.

"Parecia que sempre foi Papa. Não parecia incomodado nem intimidado", disse uma fonte da basílica à época.

A naturalidade do bispo de Roma em lidar com as pessoas foi uma de suas características mais marcantes. Sua primeira viagem apostólica foi ao Brasil, menos de três meses depois de sua eleição, quando marcou presença na Jornada Mundial da Juventude.

Papa Francisco rezou várias missas durante a Jornada Mundial da Juventude de 2013, na praia de Copacabana(Foto: Agencia Brasil/Tânia Rêgo)
Foto: Agencia Brasil/Tânia Rêgo Papa Francisco rezou várias missas durante a Jornada Mundial da Juventude de 2013, na praia de Copacabana

"Vocês já têm um Deus brasileiro, queriam um papa brasileiro também?", disse bem-humorado em uma das primeiras entrevistas que concedeu depois de chegar ao Rio.

Em pouco mais de uma década, Francisco marcou a realidade com sua presença frente aos desafios no interior da Igreja e às mudanças e conflitos que se manifestam no mundo.

A partir dos gestos e dos processos que levou adiante na Santa Sé, e também dos documentos que produziu, sua mensagem evangélica foi sempre um convite à fraternidade, à proximidade e à ternura. “A exemplo de Jesus”, como ele mesmo costumava dizer.

Com a morte de Francisco, fieis, religiosos e teólogos se enchem de dúvidas sobre o futuro da Igreja. Em um mundo cada vez mais dividido e marcado por conflitos, a ausência de um líder agregador e militante pela paz será sentida até por quem não é católico.

 

 

Um argentino torcedor do San Lorenzo

Antes de seguir o caminho do sacerdócio, Jorge Mario Bergoglio teve uma vida comum, marcada pelo trabalho, pelo estudo e por experiências que moldaram sua visão de mundo.

O papa Francisco foi criado em uma família de classe média em Buenos Aires(Foto: Vatican News / Reprodução)
Foto: Vatican News / Reprodução O papa Francisco foi criado em uma família de classe média em Buenos Aires

Ele nasceu em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, Argentina, filho de imigrantes italianos. Seu pai, Mário, trabalhava como contabilista no sistema ferroviário, enquanto sua mãe, Regina Sivori, cuidava da casa e da educação dos cinco filhos.

Francisco também era muito próximo à avó. Foi ela quem lhe ensinou a rezar e teve uma grande influência em sua fé. Segundo ele, ela lhe contava histórias de santos e esteve muito presente em sua infância. 

No livro Conversas com Jorge Bergoglio, de Sergio Rubín e Francesca Ambrogetti, o pontífice contou que, quando tinha apenas 13 meses, seu irmão nasceu, e, como sua mãe não conseguia cuidar dos dois ao mesmo tempo, sua avó, que morava perto, passou a levá-lo para sua casa todas as manhãs, devolvendo-o apenas à tarde.

Na juventude, Bergoglio formou-se como técnico químico e chegou a trabalhar nessa área antes de decidir ingressar no seminário. Durante esse período, teve uma vida simples, como qualquer outro jovem argentino de sua época.

Gostava de futebol, o que o levou a ser um fã do esporte e torcedor declarado do San Lorenzo. Quando já era papa, em 2014, o time foi o campeão da Copa Libertadores da América. Na ocasião, Francisco disse: "Estou muito feliz com isso, mas, não, não é um milagre.

 

 

"Para mim, o San Lorenzo era o time que toda a minha família torcia. Meu pai jogava no time de basquete e, quando éramos crianças, às vezes íamos ao estádio com a mamãe", acrescentou.

Jorge Mario também dançava tango e tinha uma vida social ativa, grande parte dela dedicada às atividades da sua paróquia, cuja sede era a Basílica de San José de Flores

Foi lá que o pontífice disse ter recebido seu chamado, em 21 de setembro de 1954. Naquele dia, o jovem Jorge Bergoglio preparava-se para festejar o Dia do Estudante com os seus companheiros. Mas decidiu começar o dia visitando a igreja.


 

Foi na paróquia que Bergoglio descobriu sua vocação

 

Hoje, a igreja recebe uma rota turística relacionada ao papa


Chegando lá, encontrou um sacerdote que não conhecia, mas com quem sentiu uma profunda conexão espiritual, de modo que decidiu se confessar com ele. Nessa confissão me aconteceu algo estranho, não sei o que foi, mas mudou minha vida; eu diria que fui surpreendido com a guarda baixa”, contou em "Conversas com Jorge Bergoglio".

“Foi a surpresa, o estupor de um encontro; percebi que estavam me esperando. Isso é a experiência religiosa: o estupor de encontrar alguém que está nos esperando”, acrescentou.

 


O chamado de Francisco

Uma experiência marcante de sua adolescência foi um grave problema de saúde: aos 21 anos, sofreu uma infecção severa e precisou retirar parte de um dos pulmões.

Essa doença o fez refletir sobre a fragilidade da vida e aprofundar sua relação com a fé. Em o que pode ser chamado apenas de ironia do destino, foi justamente uma doença pulmonar que encerrou o pontificado de Francisco.

Logo depois de se recuperar em 1958, aos 22 anos, Bergoglio decidiu ingressar na Companhia de Jesus, iniciando seu caminho para o sacerdócio. 

Jorge Bergoglio ingressou no sacerdócio aos 22 anos (Foto: Vatican News / Reprodução)
Foto: Vatican News / Reprodução Jorge Bergoglio ingressou no sacerdócio aos 22 anos

Sua vida antes da Igreja foi, segundo amigos e membros do clero, fundamental para moldar sua visão pastoral: Bergoglio sempre valorizou a proximidade com as pessoas e uma vida simples, características que carregaria ao longo de todo o seu ministério.

Jorge Mario ordenou-se sacerdote em 1969, tornando-se uma figura influente dentro da ordem jesuíta na Argentina. Foi professor, reitor e provincial da Companhia de Jesus no país. Em 1992, foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires e, em 1998, tornou-se arcebispo da cidade.

Sua atuação pastoral era marcada pela simplicidade e pelo compromisso com os mais pobres. “O meu povo é pobre e eu sou um deles”, dizia ele, explicando sua escolha por uma vida modesta, sem luxos. Entretanto, seu anos como padre jesuíta não foram isentos de turbulências.

Jorge Mario Bergoglio foi um padre da Companhia de Jesus, conhecida como Ordem Jesuíta(Foto: Vatican News / Reprodução)
Foto: Vatican News / Reprodução Jorge Mario Bergoglio foi um padre da Companhia de Jesus, conhecida como Ordem Jesuíta

 

 

Bergoglio e a ditadura argentina

Durante o período da ditadura militar na Argentina (1976-1983), Jorge Mario Bergoglio liderava a Ordem Jesuíta no país, e seu nome foi, por várias vezes, relacionado a episódios controversos dessa época.

Pouco depois da eleição de Francisco, o jornal Página 12 publicou relatos de que, em 1976, Bergoglio teria deixado de oferecer proteção institucional da Igreja aos sacerdotes jesuítas Orlando Yorio e Francisco Jalics. Ambos realizavam trabalho social junto a comunidades carentes em Buenos Aires e acabaram sendo sequestrados e torturados pelo regime militar.

As acusações contra Bergoglio aparecem também em diversas publicações, como o livro Iglesia y Dictadura (1986), de Emilio Mignone, e O Silêncio (2005), escrito pelo jornalista e ex-guerrilheiro argentino Horacio Verbitsky.

Segundo depoimentos, Bergoglio teria sugerido que os dois sacerdotes abandonassem suas atividades sociais ou deixassem a Companhia de Jesus, o que, conforme o Página 12, pode ter sido interpretado como um sinal favorável à repressão.

Papa Francisco foi acusado de colaborar com o regime militar argentino(Foto: Andreas SOLARO/AFP)
Foto: Andreas SOLARO/AFP Papa Francisco foi acusado de colaborar com o regime militar argentino

Em 2010, Bergoglio prestou depoimento sobre sua atuação nesse período, negando todas as acusações. Ele afirmou, ainda, que havia se encontrado com o ditador Jorge Videla e o almirante Emilio Massera para solicitar apoio na tentativa de salvar a vida dos religiosos.

Anos depois, em uma carta ao escritor Aldo Duzdevich, autor de Salvados por Francisco, Bergoglio confessou que o período trazia “lembranças dolorosas".

No artigo publicado no site Religión Digital, em 2019, Duzdevich, que sustenta que "Bergoglio salvou muito mais gente do que se pensava", mostrando sua pesquisa de 25 testemunhos de pessoas que foram resgatadas por ele, hoje Papa, das garras da ditadura militar na Argentina.

Apesar das controvérsias, o papa sempre mostrou preocupação com a paz e a harmonia no mundo(Foto: Acervo O POVO)
Foto: Acervo O POVO Apesar das controvérsias, o papa sempre mostrou preocupação com a paz e a harmonia no mundo

Pela primeira vez se revelam cartas, testemunhos e ações desconhecidas que Jorge Bergoglio realizou à frente da Companhia de Jesus para esconder jovens, de diferentes ideologias, ameaçados ou para facilitar a sua saída do país.

Durante a crise econômica argentina de 2001, Bergoglio tornou-se um dos principais líderes morais do país, criticando a desigualdade social e defendendo os direitos dos mais necessitados. Sua postura chamou a atenção do Vaticano, e, em 2001, João Paulo II o nomeou cardeal.

Com a renúncia de Bento XVI, em 2013, Bergoglio foi eleito Papa no conclave. “Os cardeais foram buscar um Papa no fim do mundo”, disse ele, na sua primeira aparição na Praça de São Pedro. Assumiu o nome Francisco, em homenagem a São Francisco de Assis, simbolizando um pontificado dedicado à simplicidade, à compaixão e à reforma da Igreja.

 

 

O papa (também) é pop

Apesar da canção “O Papa é Pop” ter sido escrita em referência a São João Paulo II, a afirmação parece se aplicar perfeitamente ao pontificado de Francisco. Não apenas pela popularidade, mas por sua busca pela proximidade com a realidade do povo, fossem ou não fieis católicos.

Dentre todas as realidades nas quais a Igreja toca com sua presença, algumas foram escolhidas para serem destacadas durante o pontificado de Francisco: a fraternidade humana, a atenção à família, a ecologia integral, o combate aos abusos na Igreja, a presença na sociedade e uma nova perspectiva para os cristãos leigos.

Um dos marcos do pontificado do Papa Francisco foi a encíclica Fratelli Tutti, documento que apresentou seu desejo de que, como humanidade, “possamos reviver em todos a aspiração mundial à fraternidade”.

Para o subsecretário adjunto de Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Marcus Barbosa Guimarães, a carta encíclica “é um grande presente do Papa Francisco para a Igreja e para a nossa humanidade”.

O lema "fratelli tutti" reverberou entre os fieis, movimentando vários grupos a fazerem manifestações pela paz (Foto: Vincenzo PINTO / AFP)
Foto: Vincenzo PINTO / AFP O lema "fratelli tutti" reverberou entre os fieis, movimentando vários grupos a fazerem manifestações pela paz

“De modo especial, entre os inúmeros pontos, as inúmeras contribuições que a Fratelli Tutti nos trouxe, eu destacaria duas chaves que parecem centrais: a primeira, como lembra o Papa: se quisermos viver a fraternidade, devemos reconhecer a verdade fundamental que Deus é nosso Pai. E se Deus é nosso Pai, somos filhos e filhas, todos, sem distinção, e somos irmãos e irmãs. Essa é a raiz, é a verdade central. É a certeza que fecunda o compromisso, o dom da fraternidade”, refletiu.

"Como lembra o papa, se quisermos viver a fraternidade, devemos reconhecer a verdade fundamental que somos (...) todos, sem distinção, irmãos e irmãs"

Desde o início, o papa Francisco rompeu com a tradição de um papado distante e solene. “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas a uma Igreja doente pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças”, afirmou em sua Exortação Apostólica "Evangelii Gaudium".

Esse documento, considerado o programa pastoral de seu pontificado, introduziu o conceito de uma “Igreja em saída”, ou seja, uma Igreja voltada para os mais pobres e marginalizados. Ele convocou os fiéis a abandonarem o clericalismo e a assumirem uma postura missionária.

Em Fortaleza, o Movimento Igreja em Saída promove, mensalmente, missas campais que levam a fé para mais perto das pessoas(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Em Fortaleza, o Movimento Igreja em Saída promove, mensalmente, missas campais que levam a fé para mais perto das pessoas

Essa abordagem também se manifestou em seus gestos concretos. O papa dispensou as vestes cerimoniais e a tradicional residência pontifícia, passando a viver na Casa Santa Marta, no Vaticano, um local mais simples e de convivência comunitária.

Francisco não apenas falou sobre mudança; ele a colocou em prática. Realizou reformas na Cúria Romana, buscando maior transparência financeira e descentralização do poder. Em 2018, divulgou uma carta condenando os episódios de abuso sexual que ocorreram na Igreja Católica.

No ano seguinte, tornou obrigatório que todas as dioceses do mundo implementassem um sistema próprio de recebimento e análise de denúncias, que deveria ser acessível ao público e apresentar relatórios sobre as denúncias de potenciais casos de abusos sexuais.

Em 2024, Francisco encontrou-se com 17 vítimas de abuso por membros do clero na Bélgica. Na ocasião, as vítimas puderam compartilhar com o pontífice suas histórias, dores e expectativas em relação ao compromisso da Igreja contra os abusos. “Diante dos abusos cometidos por membros da Igreja, não basta pedir perdão”, enfatizou.

Mudanças administrativas e doutrinárias marcaram o papado de Francisco(Foto: Reprodução/Vatican Media)
Foto: Reprodução/Vatican Media Mudanças administrativas e doutrinárias marcaram o papado de Francisco

O papa parece ter assumido seu papel de liderança em um momento único na história, apontando suas visões progressistas em temas como desigualdade de renda, injustiça social e ambientalismo.

Ele protestou contra os excessos do capitalismo, perguntou "Quem sou eu para julgar?" quando questionado sobre a comunidade LGBT, abriu as portas da igreja aos divorciados e defendeu o batismo de filhos de mães solo.

Durante a pandemia da Covid-19, o bispo de Roma declarou várias vezes sua defesa pelo cumprimento das normas de saúde e expressou o desejo que a situação levasse a uma mudança social.

Em 27 de Março de 2020, o papa Francisco deu a bênção Urbi et Orbi na Praça São Pedro completamente vazia, em decorrência do isolamento social (Foto: AFP / POOL / Yara Nardi)
Foto: AFP / POOL / Yara Nardi Em 27 de Março de 2020, o papa Francisco deu a bênção Urbi et Orbi na Praça São Pedro completamente vazia, em decorrência do isolamento social

Em março de 2020, pela primeira vez na história Igreja, o papa rezou sozinho, diante da imensa praça vazia de São Pedro.

Em uma tarde chuvosa e acompanhado pelo toque dos sinos e pela sirene das ambulâncias, o Francisco fez um gesto histórico ao transmitir a bênção e a indulgência plena ao mundo inteiro, em decorrência da pandemia. Aquele foi, até então, o pior dia da crise sanitária na Itália, que somava 9.134 mortos.

"Senhor, não nos abandone", suplicou na bênção Urbi et Orbi, a mesma que os pontífices costumam transmitir apenas em 25 de dezembro e no domingo de Páscoa. Porém, sua postura encontrou resistência, especialmente entre setores ultraconservadores.

Papa Francisco realizou a cerimônia em Lava-Pés penitenciária de Roma (Foto: VATICAN MEDIA/ AFP)
Foto: VATICAN MEDIA/ AFP Papa Francisco realizou a cerimônia em Lava-Pés penitenciária de Roma

“Francisco provocou tanto adesão e acolhida quanto resistências obstinadas dentro da própria Igreja”, destacam José Aguiar Nobre e Elizeu da Conceição, em um artigo que analisava os dez anos do pontificado. Apesar disso, sua liderança manteve um tom firme.

Ele reafirmou a importância de um cristianismo baseado na misericórdia e na justiça social, sem abrir mão do rigor doutrinal.

Não vim abolir a Lei e os Profetas, mas dar-lhes pleno cumprimento”, disse citando o Evangelho para justificar sua missão reformista.

Outra grande contribuição de Francisco foi sua visão ecológica. A Encíclica Laudato Si (2015) defendeu o meio ambiente e denunciou a destruição da “casa comum”. Já Fratelli Tutti (2020) enfatizou a fraternidade e o compromisso com a paz mundial.

Durante seu papado, Francisco reafirmou a importância de um cristianismo baseado na misericórdia e na justiça social(Foto: ISABELLA BONOTTO / AFP)
Foto: ISABELLA BONOTTO / AFP Durante seu papado, Francisco reafirmou a importância de um cristianismo baseado na misericórdia e na justiça social

O Papa propôs uma “fraternidade cósmica”, reconhecendo a interligação entre o ser humano e a natureza. “Se alguém que ama você lhe dá um presente bonito e valioso, como você lida com ele? O ato de danificar nosso planeta nasce da perda dessa consciência de gratidão”, escreveu ele.

Essa visão marcou uma nova fase da Teologia Pastoral, chamada de “perspectiva biocêntrica”, que compreende a fé cristã como um compromisso não apenas com o ser humano, mas com toda a criação.

Ao longo do pontifcado, Francisco assumiu uma postura única na rejeição da norma, alcançando a todos, não apenas os católicos. Com sua tese de que Deus redimiu a todos, promoveu em torno de si uma intersecção entre  inclusão, humildade e esperteza, permitindo que ficasse em um lugar entre líder religioso, político e fenômeno da cultura pop.

 

Papa Francisco na Cultura Pop

 

O grande legado de Bergoglio, no entanto, parece ter sido a coerência. No Angelus de 17 de novembro de 2024, o Papa recordou que, nas tribulações, nas crises, nos fracassos, é preciso olhar para a vida e para a história sem medo de perder o que acaba, mas com alegria pelo que permanece.

Em seu último Urbi et Orbi, lido por um assessor no Domingo de Páscoa  em 20 de abril de 2025, Franscisco pediu pelo cessar-fogo em Gaza.

No cerne na mensagem, estava um apelo aos responsáveis políticos para que não cedessem à lógica do medo, mas usassem os recursos disponíveis para ajudar os necessitados, combater a fome e promover iniciativas que favoreçam o desenvolvimento.

"Estas são as 'armas' da paz: aquelas que constroem o futuro, em vez de espalhar morte!", disse. Para ele, a dor causada por guerras, violência, desastres naturais, pode nos ensinar a não nos apegarmos às coisas do mundo que inevitavelmente são destinadas a desaparecer. Sua mensagem final, não poderia ser mais coerente.

"Tudo morre, mas não perderemos nada do que construímos e amamos”.

 

 

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