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Uruguai se despede do popular ex-presidente 'Pepe' Mujica
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Uruguai se despede do popular ex-presidente 'Pepe' Mujica

Um cortejo fúnebre saiu da sede da Presidência e chegou cerca de três horas depois ao Palácio Legislativo
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CORPO de Mujica foi velado no Palácio Legislativo  (Foto: PABLO PORCIUNCULA/AFP)
Foto: PABLO PORCIUNCULA/AFP CORPO de Mujica foi velado no Palácio Legislativo

Com lágrimas, gritos de incentivo e agradecimentos, os uruguaios começaram a se despedir, nesta quarta-feira, 14, de José "Pepe" Mujica, o ex-guerrilheiro que chegou à Presidência do país e se tornou referência da esquerda latino-americana, falecido na véspera, aos 89 anos.

Adepto de um estilo de vida austero, fiel à sua retórica anticonsumista, José Mujica realizou seu desejo de morrer em sua modesta casa nos arredores de Montevidéu, acompanhado de sua esposa e ex-vice-presidente uruguaia, Lucía Topolansky. Ele havia sido diagnosticado com um câncer no esôfago um ano antes.

O presidente uruguaio, Yamandú Orsi, seu herdeiro político e quem anunciou seu falecimento na terça-feira, 13, liderou junto a Topolansky o cortejo fúnebre que saiu da sede da Presidência e chegou cerca de três horas depois ao Palácio Legislativo.

"Dói a perda de um amigo, de um companheiro", disse Orsi, "mas ver idosos, crianças, jovens demonstrando esse carinho e essa despedida é um rebote de sentimentos que conforta", declarou após acompanhar o cortejo e presenciar as primeiras horas do velório público no Salão dos Passos Perdidos do Parlamento.

Posicionados dos dois lados da avenida 18 de julho, a principal de Montevidéu, os uruguaios se aglomeraram para se despedir de seu líder na passagem do caixão disposto sobre uma carreta fúnebre, puxada por cavalos. "Obrigado, Pepe!", gritavam alguns dos presentes, enquanto outros choravam.

Mujica representa "a luta, a resiliência, o seguir adiante para ajudar os mais necessitados", disse à AFP, entre lágrimas, Solana Lozano, médica de 46 anos, que se aproximou, acompanhada da mãe e da filha, na passagem do cortejo.

Durante seu mandato presidencial (2010-2015), o ex-guerrilheiro se caracterizou por romper com o padrão dos antecessores. Ao discurso direto, caloroso e sem protocolos, o esquerdista somou reformas durante seus anos como presidente que marcaram o país de 3,4 milhões de habitantes.

A mais inovadora foi um plano para a legalização da maconha, que colocou o Estado no comando de tudo, da produção à comercialização. Também legalizou o aborto e aprovou o casamento igualitário. Além disso, recebeu prisioneiros de Guantánamo, a pedido dos Estados Unidos, e refugiados sírios.

Esse espírito antissistema o levou, na juventude, a ser um dos líderes da guerrilha urbana Movimento de Liberação Nacional-Tupamaros (MLN-T) e a suportar 13 anos de prisão em condições sub-humanas nas mãos da ditadura.

Mujica fez campanha pela esquerda até seus últimos dias, sem descuidar da defesa veemente da unidade latino-americana.

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