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21, o século da Biologia - II Genômica Sintética
Opinião

21, o século da Biologia - II Genômica Sintética

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Continuando a responder a pergunta “O que nos reserva a Biologia neste século?”, feita no artigo anterior, comentaremos as experiências de síntese química de DNA ou Genômica Sintética. Talvez tudo tenha começado com Arthur Kornberg (Nobel de Medicina ou Fisiologia, 1959) em um artigo de 1967 publicado no Proceedings of the National Academy of Science, descrevendo a síntese enzimática do DNA do bacteriófago oX174, estranha sigla de um pequeno vírus que infecta bactéria. Pródigo em propiciar prêmios, este vírus teve a sequência de 5.386 pares de bases de seu DNA elucidada em 1977, por Fred Sanger, utilizando a técnica dideoxi para sequenciar genomas, por ele criada, que o faz merecedor de um segundo Nobel de Química em 1980; o primeiro foi recebido em 1958 pela determinação da sequência da insulina, hormônio que promove a absorção preferencial de glicose.

Revendo a série de artigos publicados na Science Magazine, revista oficial da American
 

Association for the Advancement of Science, verificamos que já em 2003 são relatadas as experiências realizadas pelo J Craig Venter

Institute (JCVI) sobre a síntese química do primeiro genoma, o do bacteriófago oX174, a partir de oligonucleotídeos sintéticos. A seguir, em 2010, 24 pesquisadores do grupo liderado pelo dr. Craig Venter, relatam a síntese do genoma de 1.080 milhões de pares da bactéria

Mycoplasma mycoides, construído a partir das quatro bases que constroem o DNA.

Este genoma é transferido para a célula da bactéria Mycoplasma capricolum que se transforma em células de M. mycoides que passam a ser controladas somente pelo genoma sintético. O único DNA nestas novas células é o DNA feito pelo homem capaz de autorreplicação contínua, o genoma JCVI-syn1.0.


O sucesso destas experiências mostra que existem novas ferramentas e tecnologias capazes de construir genomas sintéticos ativos e, como qualquer trabalho científico de impacto, nos obriga a revisões éticas e sociais.


Hoje, sentado em frente a um computador diretamente ligado a um sintetizador automático de DNA, podemos digitar uma sequência de bases para construir o gene ou o genoma que quisermos. E junto com o sistema CRISPR/Cas9, descrito no artigo anterior, inserir o gene em uma célula corrigindo algum problema genético ou transferir um genoma para outra célula criando ou recriando novos micro-organismos capazes de limpar a água, criar combustíveis, eliminar dióxido de carbono do ar, produzir novas vacinas ou fármacos etc.


A vida torna-se digital.

 

Gilberto B. Domont

gilbertodomont@gmail.com

Professor Emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

 

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