Revendo a série de artigos publicados na Science Magazine, revista oficial da American
Association for the Advancement of Science, verificamos que já em 2003 são relatadas as experiências realizadas pelo J Craig Venter
Institute (JCVI) sobre a síntese química do primeiro genoma, o do bacteriófago oX174, a partir de oligonucleotídeos sintéticos. A seguir, em 2010, 24 pesquisadores do grupo liderado pelo dr. Craig Venter, relatam a síntese do genoma de 1.080 milhões de pares da bactéria
Mycoplasma mycoides, construído a partir das quatro bases que constroem o DNA.
Este genoma é transferido para a célula da bactéria Mycoplasma capricolum que se transforma em células de M. mycoides que passam a ser controladas somente pelo genoma sintético. O único DNA nestas novas células é o DNA feito pelo homem capaz de autorreplicação contínua, o genoma JCVI-syn1.0.
O sucesso destas experiências mostra que existem novas ferramentas e tecnologias capazes de construir genomas sintéticos ativos e, como qualquer trabalho científico de impacto, nos obriga a revisões éticas e sociais.
Hoje, sentado em frente a um computador diretamente ligado a um sintetizador automático de DNA, podemos digitar uma sequência de bases para construir o gene ou o genoma que quisermos. E junto com o sistema CRISPR/Cas9, descrito no artigo anterior, inserir o gene em uma célula corrigindo algum problema genético ou transferir um genoma para outra célula criando ou recriando novos micro-organismos capazes de limpar a água, criar combustíveis, eliminar dióxido de carbono do ar, produzir novas vacinas ou fármacos etc.
A vida torna-se digital.
Gilberto B. Domont
gilbertodomont@gmail.comProfessor Emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)