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Marcelo Uchôa: "Mercado e insensibilidade social"
Opinião

Marcelo Uchôa: "Mercado e insensibilidade social"

Edição Impressa
Tipo Notícia Por

Marcelo Uchôa

marceloruchoa@gmail.com

Advogado e  professor doutor de Direito da Universidade de Fortaleza (Unifor)


Oportuno o comentário da colunista de Economia do O POVO, Neila Fontenele, em 6/9: “Enquanto boa parte da população brasileira junta os trocados para pagar as contas do mês e se endivida no cartão comprando comida, as denúncias e investigações da Lava Jato revelam mais uma vez a sordidez da política nacional, mostrando malas de dinheiro para corrupção. A sensação é de que não há limites, nem lei capaz de barrar as relações promíscuas entre empresas e grandes representantes do poder no País. Mas a indiferença em relação a tudo isso também parece ser uma marca perversa. O mercado financeiro acumulou ontem ganhos surpreendentes, próximos aos que foram verificados quando o País conseguiu grau de investimento. A lógica que guia essa valorização parece enviesada e torpe. Baseia-se em questões como a manutenção do presidente Michel Temer e a condução das reformas. Portanto, não interessa se há ou não envolvimento dele nas acusações que borbulham nos jornais.”


Em resumo, suscita a estupefata jornalista discussão sobre como pode o mercado manter-se indiferente ante um total descalabro ético. Impressiona-se desnecessariamente, afinal, agiotas em Wall Street vivem não de outra coisa, senão de investir em desestabilização político-econômica de países como o Brasil para aproveitar-se, ao máximo, de suas riquezas. Foi assim que destituíram ilegitimamente a presidente Dilma, acionando sua rede local de colaboradores: a grande mídia (responsável pela manipulação e mobilização social), os cartéis econômicos entreguistas (financiadores da empreitada de assalto) e o consórcio parlamentar-judiciário disfarçado de censor da legalidade, manifestamente comprometido com um moralismo conservador de direita (conferidor da legitimidade político-jurídica ao golpe institucional).


Para um bom entendedor de ciência política, não há incoerência alguma na atitude do mercado. Ele celebra exultante, sua vitória. Boquiabertos deveriam estar os idealistas defensores da suposta justeza natural do capitalismo. Estes, sim, deveriam abrir os olhos e compreender a crueza do monstro que defendem. Porque por trás de expressões extraordinárias como “liberté, égalité, fraternité” existe o fantasma da acumulação do capital, que permanentemente incentiva e patrocina lutas egoístas e egocêntricas de exploração de homens sobre homens, povos sobre povos, nações sobre nações.

 

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