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Alberto de Oliveira visto
Opinião

Alberto de Oliveira visto

Mais grave do que isso, porém, é Geir afirmar que o grande poeta parnasiano tinha saudade dos tempos da escravidão
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Geir Campos é o autor de Alberto de Oliveira, da coleção Nossos Clássicos, da Agir, de 1959. Mas mostra solene antipatia pelo grande poeta. Falando do verso “Sua mão de jaspe, sua mão de neve”, condena-o porque sua tem ora uma sílaba, ora duas. Sendo assim, estaria errado este verso de Varela: “Tu és tão tenro ainda, ainda tão débil”, onde ainda apresenta o mesmo caso. E não estamos falando de um erro grosseiro de história quando, na introdução do livro, diz que, cinco ou seis anos depois de 1878, a luta abolicionista “recrudesceu e animou poetas como Castro Alves”. Lembre-se que o poeta baiano havia falecido em 1871...


Mais grave do que isso, porém, é Geir afirmar que o grande poeta parnasiano tinha saudade dos tempos da escravidão. Diz ele nessa introdução que o problema dos sofrimentos dos escravos, “traficados da África sem salários (...) e sem um mínimo de regalias ou direitos os mais comezinhos”, teve como a única referência o poema “Natália”, do 3º volume de Poesias (1913), mas “para manifestar um saudosismo senhorial que lamentava os bons tempos” da escravidão.


É incrível ele não ter visto, no volume 2º de Poesias (1912), o poema “A Morte do feitor”, em sete partes, com versos de 11 sílabas.


A terceira estrofe diz, falando do feitor: “Agoniza e morre. Não vão muitos anos, / Relho em punho alçado, braços africanos / Seu furor provaram. Cafezais em flor, / Chapadões de morros, fossos e valados, / Vós que ao eito vistes tantos desgraçados, / Vós sabeis a história do cruel feitor.” Depois, há alusões aos “silvos do azorrague”, e ao pelourinho. Sua filha jovem, de olhos verdes, reza por ele, O vento sopra em redemoinho: “Agoniza o monstro. Horrível agonia. / No delírio e febre, uivos da ventania / Soam-lhe aos ouvidos, como em confusão // Crebros choros surdos dos cativos, quando /Peito, espáduas, ombros ia-os retalhando, / Vendo o sangue em jorros a empoçar no chão.”


E diz a última estrofe desse poema impressionante: “Morre o monstro, e a alma, sem que lhe valesses, / Moça de olhos verdes, tu com as tuas preces, / Em fumaça e poeira pelos ares sai, / De blasfêmias e uivos forma o seu lamento, / Em blasfêmias e uivos vai o pé-de-vento, / Vai com o redemoinho que lá vai... Lá vai!”


Como explicar que um poeta do porte de Geir Campos tenha escrito um trabalho tão cheio de erros graves?

 

Alberto de Oliveira visto
por Geir Campos

Sânzio de Azevedo

sanziodeazevedo@gmail.com

Doutor em Letras pela UFRJ e membro Da Academia Cearense de Letras

 

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