Luiz Carlos da Silva Cândido
carlosluiz156@gmail.comGraduando do curso de História (Uece/Fafidam)
Na semana passada, como em muitas outras, fiquei por alguns momentos a pensar sobre toda minha trajetória como sujeito atravessado por singularidades e todos os cortes/recortes com os quais me identifico e, supostamente, pertenço (já que sinto a necessidade de fazer parte de algo). Pensei em todo esse processo de (des)construção e (res)significação dos signos que me “definem” como pessoa. Ser hoje bicha e preta, reivindicar esse lugar e atribui-lo elementos positivos não é uma tarefa fácil. Não para mim, e, acredito, que para aquelas pessoas que compartilham esses
mesmos posicionamentos.
Em meio a essa reflexão pessoal, deparei com essa liminar concedida pela Justiça Federal do Distrito Federal, que vai permitir aos psicólogos tratarem os sujeitos LGBTs como “doentes”. Lembrei-me da criança assustada que fui/sou, que sequer tinha consciência da sexualidade que possuía, das cicatrizes profundas, que vez ou outra sangram. Lembrei que essa criança com a inocência que possuía recorreu a “Deus” em busca de “mudança” e “cura”. A criança que eu fui não tinha consciência do sujeito que um dia ela se tornaria. Não sabia que estava tudo perfeitamente bem com ela. Apenas mais tarde entenderia que o problema, ou seja, a verdadeira doença encontra-se nos outros, que travestem sua LGBTfobia em ciência e religião. Entrar em contato com essa notícia me fez, por um breve momento, ser aquela criança do passado.
Em um país onde gozar em uma mulher em um transporte público não é entendido como crime; onde se matam travestis/transexuais das formas mais brutais; onde existe uma quantidade absurda de pessoas que dizem concordar com essas atitudes, em nome de uma “moral” religiosa; qual o lugar da diferença que não a “anormalidade”?
Hoje, com todo esse processo de produzir novos signos à minha sexualidade, cor e classe social, vivo dias ruins, que trazem tormento, dor, cansaço e uma imensa vontade de desistir; mas também dias em que ser bicha preta é maravilhoso, ainda que o contexto no qual esteja inserido despreza isso que sou. Como escapar da condição de doente que eles querem nos impor?
Resistindo com orgulho.