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Editorial: "Dom Aloísio Lorscheider: um pastor inesquecível"
Opinião

Editorial: "Dom Aloísio Lorscheider: um pastor inesquecível"

Se não tivesse sido traído por uma doença, teria tido grandes chances de ter sido o 1º Papa Latino-americano
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Há dez anos, nesta data, morria o cardeal Aloísio Lorscheider, arcebispo de Fortaleza de 1973 a 1995. Quase véspera de Natal, a notícia ameaçava enlutar uma das festas mais simbólicas do calendário cristão. No entanto, como ressaltou O POVO, na ocasião - neste mesmo espaço -, acabou significando a apoteose espiritual do velho e querido pastor, tornando-se seu dies natalis (dia do nascimento) na vida eterna, conforme a crença cristã que ele tão coerentemente professara e dera sentido à sua vida.


A comunidade de crentes e não crentes de Fortaleza aprendera a ver nele um referencial de fé e humildade cristãs, mas também de coragem cidadã. Pois liderou a Arquidiocese de Fortaleza no momento mais agudo do colapso da democracia brasileira, quando a intolerância e a perseguição do regime ditatorial não poupavam o menor pensamento crítico. A Igreja Católica teve logo de se posicionar diante do desatino do regime militar, que tornara rotineira a suspeição sobre seu próprio trabalho pastoral.


Dom Aloísio era visto com desconfiança pela ditadura e chegou a sofrer atentados à sua residência, depois que voltou sua atenção para os movimentos sociais, acolhendo seus pedidos de intermediação junto às esferas do poder. Aos aflitos, dava uma palavra de ânimo e esperança. Atitude que se estendeu à defesa dos direitos humanos das populações carentes e mesmo dos presos políticos e dos encarcerados comuns.

Lutou contra a tortura e defendeu a democracia participativa.


Foi elevado às mais altas distinções da hierarquia eclesiástica, não só em nível nacional, mas mundial, tendo sido secretário-geral e presidente da CNBB; presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), presidente da Caritas Internacional e presidente do Sínodo Mundial dos Bispos. Mesmo sem Fortaleza ser sede cardinalícia, foi nomeado cardeal pelo papa Paulo VI e chegou a ser votado no conclave que elegeu seu sucessor (o próprio papa
João Paulo I revelou, publicamente, que votara nele).


Se não tivesse sido traído por uma doença coronária, teria tido grandes possibilidades de ter sido o primeiro papa latino-americano, antecipando a simplicidade e o despojamento de Francisco, no seguimento ao “poverello” de Assis, pois já era franciscano de hábito e na doação amorosa e solidária aos desvalidos.

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