No final de novembro, um grupo de prefeitos e outros gestores públicos brasileiros participou de um seminário na Catalunha (Espanha) sobre “Cidades Inteligentes - Caminhos e Oportunidades”. E na ocasião, os ex-prefeitos de Barcelona - Jordi Hereu e Havier Trías - deram uma lição de como bem conduzir a gestão pública, destacando que o caminho é um planejamento consistente aliado à continuidade das ações.
Entre 1960 e 1990, Barcelona sofreu com a decadência econômica. Porém, com um planejamento para três décadas - que juntou o poder público, universidades e empresas -, agora é símbolo de desenvolvimento e inovação. Além do planejamento, os ex-prefeitos destacaram a importância de um pacto social sólido para garantir os avanços que tornaram Barcelona uma das cidades mais atraentes da Europa.
Hereu e Trías - de partidos diferentes - foram unânimes em afirmar que o planejamento e o pacto firmados com a sociedade preponderaram nas suas administrações. Se os cidadãos definiam, por exemplo, que para os próximos anos determinados projetos de mobilidade urbana deveriam ser prioritários, um gestor implantava o planejado e o outro dava continuidade à iniciativa.
Lá, o planejado e o pactuado com a sociedade prevalecem. No nosso país, ao contrário, boas iniciativas costumam ser abandonadas nas gestões seguintes.
Temos uma tradição de descaso com o dinheiro público - que nasce da carência de planejamento, e passa pela descontinuidade de projetos e pela falta de um pacto social que vincule os gestores aos reais desejos da sociedade.
E essas questões - planejamento de longo prazo, continuidade de ações e pacto social - são efetivamente importantes. É ingênuo pensar que o poder público, sozinho e em curto prazo, tem capacidade para solucionar problemas estruturais relacionados a pobreza, saúde, educação e segurança, por exemplo. É importante que a sociedade participe, elabore uma agenda e cobre dos gestores seu cumprimento.
Com um planejamento estratégico de longo prazo, o gestor, independente de quem seja, terá um roteiro a cumprir. Esse foi o recado que os ex-prefeitos de Barcelona procuraram transmitir. E nesse particular nós, cearenses, estamos nos adiantando. Recentemente a Prefeitura de Fortaleza consolidou um planejamento para até o ano 2040. E o Governo iniciou a Plataforma Ceará 2050.
O cidadão brasileiro precisa compreender que, sem planejamento e continuidade de ações, não virão as mudanças tão desejadas no País - e a sociedade, atônita, tenderá, a cada quatro anos, buscar um novo “salvador da pátria”.
Francisco de Queiróz Maia Júnior
maia.junior@seplag.ce.gov.br
Secretário do Planejamento e Gestão do Ceará