A medida desagrada a alguns parceiros dos Estados Unidos, não só no mundo árabe. O momento mostra ainda que a Organizações das Nações Unidas (ONU) não consegue estabelecer uma ordem mundial por meio do direito internacional.
Trump deveria ser mais prudente usando a newgotiation - técnica é baseada em quatro passos para tomada de decisão e prevenção de conflitos -, que visa a uma solução pacífica, em vez da velha forma de negociar, usando táticas mais agressivas, de “olho por olho”. Ao mesmo tempo, sua ação pode gerar uma oportunidade com concessões. Como por exemplo, Israel parar a colonização dos territórios ocupados e de reconhecimento de um estado palestino. Emmanuel Macron, presidente da França, pode ser esse interlocutor criativo.
Por que Trump faz isso agora? O que estaria em jogo seriam assuntos domésticos dos próprios EUA. Especialmente a tentativa do presidente americano de agradar as suas bases eleitorais. A mais importante delas é a dos evangélicos conservadores. Ele foi muito bem votado no chamado “Bible Belt”, o famoso “cinturão da Bíblia” de estados do interior americano.
Para alguns desses americanos, o Estado judeu precisa estar plenamente estabelecido para dar curso à volta de Jesus Cristo à Terra. A ideia da volta dos judeus, o povo eleito de Deus segundo o Velho Testamento, é central na crença de que o Messias retornará para protagonizar episódios narrados no livro do Apocalipse.
Outro fator é que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu é acusado de corrupção, e essa atual tensão o tiraria do foco. Um documento da polícia israelita sustenta que o governante é suspeito de crimes, incluindo abuso de confiança e suborno em dois casos de corrupção. Ele se encontra fragilizado. Com isso, tenta manter um forte patriotismo para sair do centro das atenções.
Em um contexto global, os Estados Unidos, Israel e a Arábia Saudita estão montando uma coalização para tentar isolar a influência do Irã e do Catar na região. O Catar e o Irã ajudam o Hamas na Faixa de Gaza. O governo do Egito também não quer uma influência da organização palestina em seu território. Outro fator importante nesse contexto é que a Arábia Saudita e os Estados Unidos não gostaram do acordo nuclear com Irã, feito durante o governo de Barack Obama.
Os palestinos reivindicam parte da cidade (Jerusalém Oriental) como capital de seu futuro Estado. A medida de Trump trava a negociação de um estado palestino autônomo. Porém a cidade que abriga locais sagrados para judeus, cristãos e muçulmanos, pode e deve ser a chave para a paz.
Yann Duzert
yann@fgv.br
Professor de Negociação e Resolução de Conflitos da Fundação Getulio Vargas (FGV)