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Bolsolula
Opinião

Bolsolula

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No Brasil, os resultados eleitorais nas últimas décadas demonstram: é expressiva, a parcela de eleitores com perfil conservador – um conservadorismo de corte moderado. Expressiva, mas não ao ponto de, por si, justificar a popularidade atual da candidatura à presidente do deputado Jair Bolsonaro. O que se passa? O fenômeno é uma reação desinformada ao que o lulismo deixou de cumprir. O embrião de sua candidatura estava, portanto, no ventre de seu próprio inimigo. 


É uma reação ao lulismo porque corresponde a expectativas que os governos do PT-PMDB não atenderam. Presumem seus potenciais eleitores que o controvertido deputado tem respostas eficazes para desmontar o crime organizado nas instituições públicas, combatendo a corrupção, e na periferia das cidades, enfrentando os atacadistas do tráfico de drogas. Presumem, ainda, que ele é a resposta ao que o conservadorismo mais radical contesta como um afrouxamento das tradições morais e dos costumes. Bolsonaro é um apelo à ordem. Uma reação à presumida desordem que, por razões diversas, o reformismo moderado do lulismo ignorou ou alimentou.
 

Digo, no entanto, que se trata de uma “reação desinformada” porque Bolsonaro é uma construção aparente, montada sobre artefatos simbólicos e sem substância real. Não é um conservador qualificado. Em miúdos: o homem não diz lé com cré e, no entanto, é, pelo menos até o momento, o adversário que o eleitorado conservador escolheu “para botar a casa em ordem”. 


Sem ser anti-popular (até porque votou a favor das medidas sociais dos governos PT-PMDB), Bolsonaro é um anti-Lula no que ele tem de pior: sua amável aceitação das regras espúrias que regulam a sustentação das maiorias parlamentares e sua chocante relutância em reconhecer que vivemos em um País conflagrado, em que uma parcela da população já reclama abertamente medidas excepcionais para problemas que ela já não vê como possam ser enfrentados apenas com os postulados da “Doutrina Maria do Rosário”. A toda ação corresponde uma reação – uma lei natural. O problema é a qualidade da reação apresentada.

 

Ricardo Alcântara
opiniao@opovo.com.br
Escritor e publicitário

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