Aprendi com o amigo Irineu Guimarães, que o Piauí recuperou seus 66km de belas praias por um jamegão de D. Pedro II. O Ceará se fez de bobo por uns 300 anos, tungando do vizinho, o acesso ao mar. A praia de Luís Corrêa, nesta nesga beira-mar do Piauí, é das mais belas do Brasil com seus recifes coloridos, dunas e um vento preguiçoso que acalma o relógio. Tanto acalmado que o desenvolvimento turístico ainda não chegou até lá.
Peixes ornamentais nunca viram um rio ou um dos sete mares. Foram paridos e, os que sobreviveram do apetite dos pais, cresceram num aquário e como outros animais de cativeiro, não conhecem predadores.
Nenhum deles sabe como é a vida real. Assim como os nossos ambientalistas de aquário.
Passei as férias no Ceará. Eu e minha família amamos o Ceará, suas praias e cenários, o povo cearense e sua cultura. Sempre quis um resort no litoral cearense. No Marriott, no Hyatt e nos últimos anos da minha dura vida empresarial. Esbarrei em questões ambientais que diminuíram meu apetite e dos que me financiavam. Fazendo uma conta de padeiro, o meu desejo seria de um resort de cerca de 500 apartamentos e entre 500 e 1.000 empregos diretos. Seriam cerca de R$350.000.000 em investimento apenas no hotel. Seriam! Todos os centavos espantados pelo fantasma da incerteza de licenças ambientais.
Advogo pelo emprego e pelo crescimento da economia através da iniciativa privada. Vivemos há anos o dilema fundamentalista que opõe o crescimento econômico à preservação ambiental, esquecendo que não há preservação sem ocupação: o que há no lugar da ocupação é a invasão como atestam as encostas do Rio de Janeiro, o entorno da Lagoa da Conceição, e quase toda reserva de mata atlântica remanescente (abandonada pelos ambientalistas de cativeiro).
Durante meus 15 dias no litoral cearense pude observar estarrecido, o fluxo de camionetas de luxo disputando rachas sobre as dunas. Vi hordas de bugres com turistas, voando baixo nas dunas, com emoção.
Até “ski” puxado por camionetas eu vi, coroando o vácuo entre o entendimento burocrático da restrição e preservação, e a humilhação do argumento oficial, real, enterrado na areia.
Eu não toco o “samba do incorporador doido”, como diria o Stanislaw Ponte Preta. Mas demando uma visão prática sobre projetos turístico-imobiliários em um logradouro público dito turístico, como o Brasil.
Julio Gavinho