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Sabrina Matos: Mais um transtono
Opinião

Sabrina Matos: Mais um transtono

Edição Impressa
Tipo Notícia
Com o título “Medicamentos mortais e crime organizado”, o médico dinamarquês Peter Gotzsche apresenta de forma explícita e contundente como a indústria farmacêutica corrompeu a assistência médica. Em tempos onde tudo é considerado patologia, onde o corpo é patologizado e medicado, onde se medicaliza a normalidade, leitura obrigatória não só para os especialistas.

 

O livro é ancorado em pesquisas por várias áreas da saúde. No capítulo 17 intitulado “Psiquiatria, o paraíso da indústria de medicamentos” o autor inicia fazendo a pergunta: estamos loucos ou o quê? E segue pontuando que a psiquiatria é o paraíso da indústria de medicamentos porque as definições de transtornos são vagas e fáceis de manipular. Diz ainda que a psiquiatria é elástica e substituiu o cuidado por medicamentos. E que psiquiatras muitas vezes são traficantes de drogas.


O subtítulo do livro – Como a indústria farmacêutica corrompeu a assistência médica -aponta o teor dos seus 22 capítulos. O leigo talvez fique estarrecido com os dados. Como justificar, por exemplo, que a taxa de depressão na população mundial aumentou mil vezes desde os dias em que não tínhamos medicamentos antidepressivos, questiona Peter. Como digerir que a doença bipolar em crianças aumentou 35 vezes em 20 anos nos EUA? E a história do desequilíbrio químico? “É uma mentira. Nunca foi documentado que qualquer uma das grandes doenças psiquiátricas seja causada por um defeito bioquímico e não há teste biológico que consiga nos dizer se alguém tem um determinado transtorno mental. Os psicotrópicos não corrigem um desequilíbrio químico, eles o causam”. Tais fatos são indesejados, nem precisa dizer, né?


Com os elaboradores da CID-11 (Classificação Internacional de Doenças/OMS) divulgando que o uso exagerado de games – a Gaming Disorder – Transtornos por jogos eletrônicos será incluído como mais uma doença mental não tenham dúvida que muitos (crianças, adolescentes e adultos) receberão tal diagnóstico e serão medicados. Ansiolíticos? Antidepressivos? Certamente.


Gotzsche diz que se fosse nomear um novo transtorno psiquiátrico seria o Transtorno de negação obsessiva de fatos indesejados. Segundo ele, “muito comum entre médicos, políticos e administradores de alto nível e que não existe cura”.

 

Sabrina Matos

sabrinamatos@unifor.br

Psicóloga e Psicanalista

 

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