Décio de Almeida Prado costumava dizer que o teatro no Brasil é uma experiência tão antiga ou tão nova quanto se queira. Tinha toda razão. Na verdade, tem. Cada tempo, assim, acaba por imprimir sua própria cena, num jogo de eterno recomeço. Geração Trianon, peça de Anamaria Nunes, sucesso na década de 1980, recém-montada em Fortaleza, com direção de Pedro Domingues, ancora justamente aí o desenrolar de sua trama.
Deliberadamente comprometida com o riso, a dramaturga fluminense acaba por emocionar suas plateias ao promover um delicado encontro do velho com o novo. É que seu texto descortina o cotidiano de uma trupe de artistas de um teatro que, para muitos, ficou para trás. A versão local, que passou pelo Theatro José de Alencar no mês passado, merece destaque, dentre muitos outros motivos, pela performance extraordinária da veterana Jane Azeredo.
Com mais de 50 anos de carreira, a atriz passeia pelo espetáculo com uma vitalidade ímpar. Sobretudo no terceiro e último ato, quando, enfim, ela e sua personagem tomam conta do palco à italiana, o que se vê é a força e a beleza de um tempo e de uma cena que não querem ficar presos ao passado. Jane Azeredo domina como poucos a comédia e o chamado teatrão. É uma atriz à moda antiga pronta para seduzir o público de agora.
É impressionante como Jane e seu teatro não envelheceram. Aparentemente cumprindo ponta no início do espetáculo, repleto de outros atores talentosíssimos, ela assume o foco do fragmento final da montagem com uma interpretação histriônica, como pede o texto, que em nada fica a dever em rigor. Geração Trian, definitivamente, precisa e merece novas e mais temporadas. A peça faz um lindo elogio à memória, coisa rara entre nós.
A presença de Jane Azeredo em cena, numa produção extremamente bem-acabada, aguça a história recente do nosso teatro. Gaúcha, ela se fez atriz no Ceará. Aqui, trabalhou com grandes nomes, integrou o elenco inaugural da pioneira TV Ceará e ainda fez parte da primeira turma do antigo Curso de Arte Dramática da Universidade Federal do Ceará. Com sua vida e sua arte, Jane Azeredo tem muito a dizer sobre nós todos. Viva, Jane Azeredo!
Magela Lima lima.magela@gmail.com Jornalista e professor do Centro Universitário 7 de Setembro