Eu não sei. Nunca soube que cidade é essa. Talvez seja preciso rasgá-la de sul a norte, da Parangaba, onde existia a padaria do Zé Pedra, que fabricava a melhor bolacha piaba da cidade, e de onde saía o rabo de burro Ivan Paiva, na sua moto Indian, para aterrorizar as virgens do centro da cidade.
Passar pela avenida João Pessoa até chegar à Praça José de Alencar. Só nesse percurso você terá passado por muitas Fortalezas. A avenida João Pessoa, que já foi Capistrano de Abreu era conhecida como a avenida da morte, era um enclave entre o Jardim América e o Porangabussu, que dava um falso ar de classe média a um bairro que se chama Damas, onde até bem pouco tempo ainda se mantinha de pé a mansão do Automóvel Clube do Brasil e a Casa do Português, que permanece em ruínas.
De um lado, a Barra do Ceará, que se alcançava nos verdes ônibus da linha Parangaba–Clube de Regatas. Antes do trambolho arquitetônico da ponte, que destruiu o mais belo pôr do sol da cidade, a travessia era feita de barco, um risco danado, mas quem se importava estando ligado de tudo.
Do outro lado, a Praia do Futuro, com o farol novo e o velho, lá se chegava com os ônibus da Cialtra, pintados de laranja, era a linha Parangaba–Praia do Futuro. Onde, à noite, dançava-se no Balanço do Mar, o hit era: “eu ia lhe chamar enquanto corria a barca”, dos Novos Baianos. Tudo era permitido, “até beijar você quando ninguém nos ver”.
E distante, muito distante, ficava uma outra cidade chamada Aldeota. Você podia ser o rei do subúrbio ou tentar conquistar a Aldeota ou, simplesmente, se perder pelo meio do caminho entre o Benfica e a Praia de Iracema, mais precisamente no Estoril, onde todos eram jovens, inclusive os velhos, todos eram de esquerda, inclusive os reacionários, todos eram belos, inclusive os feios, e todos eram felizes, de um jeito ou de outro. Apesar da ditadura militar, que nos oprimia e nos unia. A Aldeota não é mais uma cidade distante, tudo virou centro, tudo virou periferia, ricos e pobres dividem quase que todos os espaços. Só que agora os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres, você sabe.
Fernando Costa
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Sociólogo e publicitário