Em uma sociedade de consumo, consumidores estão no centro do modelo. Na sociedade de direitos estão as pessoas que estão no centro, produzindo e demandando bens e serviços para realizar projetos individuais e coletivos. Em contextos econômicos em que os direitos não são para todos, os excluídos são a consequência imediata das desigualdades de oportunidades para desenvolvimento humano. Nos dois modelos pagam-se contas mensalmente.
Para os excluídos, o mês é um luxo: o desafio da sobrevivência é diário.
Adolescentes são especialmente afetados pelas desigualdades em sociedades de consumo. A adolescência dura apenas 72 meses, tempo curto para o desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes. Tempo curto também para a construção de identidades e autonomia necessárias para a realização de seus projetos em ambientes competitivos e desiguais.
Perguntados sobre quanto precisariam para passar um mês, meninos e meninas atendidos em projetos sociais em Fortaleza partem do valor de R$ 110, calculado para cobrir gastos básicos de comunicação (créditos de celular, R$ 40 ao mês), transporte (R$ 15, para 10 meias-passagens), alimentação (R$ 35, para lanches eventuais) e cultura (R$ 20, para pelo menos um evento mensal). Nos 72 meses da adolescência, muitos abandonam a escola para gerar renda para si e suas famílias. Explorados em muitos casos, interrompem seus projetos de vida, abafando sonhos e oportunidades em uma espiral que acrescenta à pobreza de renda as múltiplas dimensões da privação de direitos.
Por isso, é preciso fazer as contas para garantir que, em cenário vindouro em que o direito prevalecerá sobre a viabilidade, salários e benefícios sociais sejam baseados em direitos humanos mais amplos que alimentação e transporte. Quem sabe, aí, todos os adolescentes terão direito à mesada para poupar, se desenvolver e ser o que quiserem, participando e fazendo escolhas.
Rui Rodrigues Aguiar
raguiar@unicef.org
Chefe do Escritório
do Unicef em Fortaleza