O Brasil vive hoje um dos seus feriados religiosos mais tradicionais: o Corpus Christi (Corpo de Cristo). Embora fale diretamente aos católicos, sua realização neste ano atua como uma pausa bem-vinda no cotidiano dos brasileiros, em meio às tribulações vividas pelo País nas últimas semanas.
A Festa de Corpus Christi foi instituída pelo papa Urbano IV, através da Bula Transiturus, de 11 de agosto de 1264, para ser celebrada na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de Pentecostes segundo o calendário litúrgico católico-romano.
A solenidade foi introduzida no Brasil pelos colonizadores e aqui foi enriquecida pela contribuição de elementos nativos. Há quem aponte contradição no fato de o Estado ser laico e, ao mesmo tempo, acolher uma data religiosa, oficializando-a. Mas, esse procedimento é justificado: a sociedade brasileira, como é notório, tem no catolicismo uma de suas matrizes espirituais e culturais fundantes, e continua a considerá-lo fonte espiritual alimentadora do cotidiano da maior parte de seus integrantes. Mas, isso não deve servir para reduzir o respeito a outras expressões de fé religiosa. É um dado da realidade histórica.
No Brasil tradicional, geralmente, a celebração proporciona um ritual que abre espaço para expressões estéticas nas comunidades urbanas (sobretudo em cidades históricas), nas quais trechos de ruas são pavimentados com flores e outros arranjos artísticos para a passagem do cortejo que conduz o ostensório, no qual é acondicionada a hóstia consagrada. Enfim, é uma ocasião para a expressão dos sentimentos tradicionais da fé católica que embala o Brasil, desde seu nascedouro, revestidos dos traços culturais genuínos que estão na raiz da formação histórica nacional.
Contudo, independentemente de o feriado estar ligado a uma matriz religiosa específica, a data serve para dar relevo à aspiração universal de transcendência, embutida em cada ser humano, independentemente de ter uma crença específica ou não. É uma oportunidade que cada um tem para dedicar um tempo a si próprio e preencher essa dimensão interior que, relegada ao esquecimento, empobrece o ser humano. No mínimo, favorece a saúde, como acontece em toda interrupção programada da atividade laboral rotineira para a reposição das energias físicas e mentais.
Ademais, nas sociedades contemporâneas, os feriados deixaram de ser vistos como perda produtiva, vez que as indústrias do turismo, do lazer e do entretenimento há muito contribuem positivamente para o fortalecimento da economia.