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Manifesto por bolhas de tranquilidade
Opinião

Manifesto por bolhas de tranquilidade

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Tipo Notícia

Dia desses, conheci uma cidade no Rio Grande do Norte com um nome bem peculiar: São Miguel do Gostoso. À beira da praia, com visual de paraíso, a comunidade de cerca de 10 mil habitantes, e distante pouco mais de 100 km de Natal, lembra aquele tipo de cenário que a gente projeta quando pensa em uma bolha de tranquilidade. Para onde nos transportamos mentalmente quando buscamos sossego, beleza, vento, sombra e coco fresco.

 

A cidade é tudo isso mesmo que os desejos de relaxamento projetam. Teria ficado morando lá para sempre (quem sabe em breve?). Mas, e quase sempre tem um mas, infelizmente a gente vai chegando à conclusão de que estão cada vez mais raras as tais bolhas de tranquilidade.

 

Descobrimos - eu e meu marido, Miguel - logo na primeira compra de uma tapioca recheada de carne de sol, que era melhor pagar qualquer quantia com cartão de crédito. Motivo: praticamente não circula Reais em papel pela cidade. O lugar mais próximo para conseguir dinheiro em cash só é concretizado após 40 km de estrada. "Segure seu dinheiro. Aviso logo para o turista para ele não ficar zerado antes do tempo", recomendou a vendedora.

 

Dia seguinte, já com os Reais guardados e usando o cartão até para água de coco. Um novo fato chamou nossa atenção em uma barraca da praia de Tourinho, a 6 km do centro de São Miguel. Na hora de pagar o tira-gosto, a maquineta não fazia conexão com o mundo externo de jeito nenhum. Mais de 15 minutos de espera e... nada.

Até que propusemos um voto de confiança do barraqueiro para este casal cearense. Voltaríamos para a pousada e, com o wifi garantido, faríamos a transferência para a conta bancária que ele indicasse. Consummatum est.

 

Juntando as pontas, em conversas de calçada com moradores, descobrimos que a cidade teve um caixa eletrônico que foi estourado por bandidos. Alguns comerciantes criaram uma moeda, o Gostoso (temos fotos se alguém quiser ver), mas a moda não pegou. Mesmo pagando alto custo aos donos das maquinetas, a cidade se rendeu à Geni eletrônica. Ou nos rendemos todos à falta de segurança que perdeu há muito tempo seus limites de urbanidade e rompeu até nossas bolhas? Que não nos demos por vencidos, que não seja consumado dessa forma.

 

Ana Márcia Diógenes 

anamarcia83@gmail.com 

Jornalista e professora

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