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A arte do sarcasmo
Opinião

A arte do sarcasmo

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Tipo Notícia

O sarcasmo sofre com as redes sociais, não é hoje, mas desde a grande ascensão dos aplicativos de mensagens de texto, indubitavelmente, o sarcasmo tem perdido seus dias de glória.

 

O sarcasmo está na entonação da voz, naquele olhar ressabiado, está no molejo do brasileiro de usar a língua portuguesa de maneira pejorativa e criativa, de uma malemolência ímpar. Ele - o sarcasmo e o ser sarcástico - com certeza, é um dos grandes feitos da comunicação, uma invenção da linguagem contemporânea.

 

Só que por mensagem, meu caro, não dá. Você não consegue repassar a exata entonação da voz, a gesticulação perfeita para tal. O deboche que deixa aquele toque sutil, como raspas de limão no bolo gelado com cobertura de chocolate branco.

 

O sarcasmo é como jazz e blues, o repique da bateria com a levada do contrabaixo, faz uma nuance que não se explica, se sente, o sarcasmo funciona de forma semelhante, se você tiver que explicá-lo, certamente errou o acorde.

 

A arte do sarcasmo é passada dos pais aos filhos, os pais, diga-se de passagem, são mestres nessa arte, as frases dissonantes ao que realmente querem dizer, deixam um gigante ponto de interrogação que chega a ser impagável na reação dos filhos, com a cara de, "e aí, vou ou não vou? ".

Meus pais, não foram diferentes, durante minha adolescência, era incrível como essa arte era aplicada, e foi uma grande escola porquê quando te tornas adulto, o sarcasmo continua ali, vivo, operante e pronto para pegar mais um desavisado ou um menos treinado.

 

Não diferente, também acontece no casamento, minha esposa maquiavélica, aquariana - como se diz atualmente, aquariana raiz - o usa frequentemente, da partida de futebol com aquele "Vai lá", até o chopp com os amigos que de forma curiosa, acaba não acontecendo - acho que as esposas e namoradas dos meus amigos, também dominam essa arte - incrível, não?

 

Tenho quase certeza que o sarcasmo foi invenção feminina de tanta engenhosidade. Chego a arriscar o palpite que o homem não tem essa capacidade de criar algo tão fabuloso, na maneira como sempre deixa a pessoa que recebe com o benefício da dúvida.

 

O sarcasmo já não é mais o mesmo, mas continua sendo fascinante.

 

Clebson Lopes de Andrade
Administrador de empresas
clebsonl.andrade@gmail.com
 
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