Apesar do grande vínculo histórico, a África é, ainda, uma novidade para a população brasileira. Isso é perceptível não só no dia a dia, mas é refletido pela mídia brasileira. Várias construções discursivas sobre o continente africano e seus habitantes denunciam uma ideologia muito estereotipada. O imaginário social não percebe as culturas africanas em sua pluralidade, composta por países com suas diversidades sociopolíticas econômicas e culturais.
Embora alguns avanços como a afirmação da lei 10.639/03, que versa sobre a obrigatoriedade do ensino da cultura e história afro-brasileira e africana nas escolas, vários livros didáticos ainda limitam a história da África à história da escravatura e colonização.
Muitos imaginam a África como "um lugar só", quando acontece algo em qualquer país da África sou interpelado: "passou na TV sobre seu país...", também situações como: "conheci uma pessoa lá da tua terra", quando a pessoa a qual se refere é de outra nacionalidade. Em relação à língua, existe uma certa persistência em perguntar: "lá falam dialetos, né? ". É curioso como os estrangeiros vindos de outros continentes possuem uma língua enquanto o africano, dialeto (palavra utilizada erroneamente para se referir a uma forma de comunicação que não chega a ter estatuto de língua). A falta de conhecimento resulta em preconceito que gera certas tensões sociais.
Há uma tendência em apagar a identidade afro na cultura brasileira e é por este motivo que quando essa identidade vem à tona, de alguma forma, vem também a intolerância e a discriminação.
Vejo uma urgência em desconstruir essa África cristalizada no imaginário social a partir de uma epistemologia não eurocêntrica e livre de preconceitos e estereótipos e, com isso, reconhecer e valorizar a identidade afro-brasileira o que, de certo, seria um grande avanço, pois se vive ainda um contexto racial muito complexo, contudo, encoberto por míticos lençóis da democracia racial.