No Brasil temos um sistema político que, apesar de democrático, é muito fechado. O fenômeno ocorrido na eleição do presidente Bolsonaro abriu uma janela de oportunidade eleitoral para novos candidatos que se elegeram com uma fração ínfima de recursos financeiros e políticos quando comparamos ao padrão que estávamos acostumados. Uma vez eleita, a nova safra de parlamentares "novatos" começou sua jornada de aprendizado e desafios diante do que é possível fazer mantendo a coerência entre discurso e ação.
Fazer o possível na política é realmente uma arte. O legislador tem duas importantes ferramentas para realizar seu trabalho. Uma é o voto ou parecer sobre cada matéria legislativa, que é onde se atesta a posição do parlamentar. A outra é o discurso. O discurso pode ser considerado o principal meio de ação do político. É através dele que o político se comunica e exerce a arte do possível, por isso, é de fundamental importância manter a coerência do discurso com as tomadas de decisão concretas através do voto legislativo para preservar a credibilidade e tornar as pautas do respectivo político cada vez mais possíveis.
Na política, mesmo mantendo a coerência da ação com o discurso, buscando fazer a arte do possível, sempre haverá disputas desleais pelo posto que desconsideram completamente todos os esforços e coerência, objetivando a tomada de posição a praticamente qualquer custo. Esse tipo de conduta vindo da oposição é algo previsível e faz parte do jogo político. O problema é quando essa conduta ocorre entre agentes do mesmo grupo, que perdem a noção sobre o que é e o que não é possível, partindo para uma situação de conflito inglória e imatura promovida pela ansiedade e, possivelmente, más influências. Insistir no impossível não é fazer a arte do possível, e qualquer pessoa com o mínimo de bom senso, experiência e preparo sabe que, na política, dividir um grupo é uma primária receita para o tornar vencido de antemão. Logo, fomentar a divisão do próprio grupo, além de ser auto sabotagem, é falta de inteligência e evitar essa conduta é uma decisão individual.
A realidade muitas vezes nos impõe algo diferente do que seria o ideal. Reconhecer a realidade, gostando dela ou não, é o primeiro passo para se buscar o possível. n