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Egocentrismo tardio - um sintoma das redes sociais
Opinião

Egocentrismo tardio - um sintoma das redes sociais

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Izolda Cela
Vice-governadora do Ceará
 (Foto: QROZNETTO)
Foto: QROZNETTO Izolda Cela Vice-governadora do Ceará

A palavra 'egocentrismo' tem origem no grego e significa o ato de tomar a si mesmo como referência para tudo. É o ego, e todos os seus motivos, interesses e emoções, que se impõe a qualquer realidade. No limite mais extremo, é a pessoa que só pensa ou age de acordo com sua vontade, sem se importar com a maneira como seu comportamento irá afetar outras pessoas. Vale saber que isso é bem normal. Mas em uma determinada fase da vida.

Piaget, formulador da teoria chamada Epistemologia Genética, fez estudos importantes sobre o desenvolvimento cognitivo desde a mais tenra idade. Ele mostrou que o pensamento lógico, esta faculdade superior exclusiva dos seres humanos, se constrói através de estágios. Em cada um deles, há importantes "tarefas" cognitivas a serem realizadas para que a pessoa passe de uma fase para outra com sucesso. Uma destas tarefas é a superação do egocentrismo. O pensamento egocêntrico de uma criança, na faixa de 3 a 6 anos, é normal e esperado. Ela ainda não tem suficientes recursos cognitivos para conhecer a realidade que a cerca, a não ser pelo que faz sentido para ela, pelos seus desejos e vontades. Todo pequenino é, portanto, autocentrado. Pode ser estranho para uma criança que uma outra pessoa tenha o nome que é dela; ou que a lua que brilha na sua casa esteja em outro lugar também; ou ainda entender o revide de um coleguinha a quem ela acabou de morder. Deslocar-se de seu ponto de vista para entender a perspectiva do outro é muito difícil para uma criança pequena. Mas por isso não pode ser chamada de "egoísta". Está no direito dela. Com uma boa educação de estímulos firmes e amorosos ela consegue passar de fase.

Mas o que evidenciam os diálogos de parte significativa das "gentes grandes" que habitam as redes sociais? No afã da defesa de 'suas verdades', sacrificam-se parâmetros éticos e princípios constitucionais do Estado de Direito; manda-se às favas a lógica baseada em fatos e dados e, o pior dos mundos, abusa-se, sem cerimônia, das chamadas fake news. Praticamente nenhuma capacidade de considerar a perspectiva do outro. Na verdade, o jogo é conseguir destruir o outro. É um vale-tudo absolutamente egocêntrico que, este sim, deixa uma fatura alta para conseguirmos "passar de fase" no enfrentamento dos robustos desafios nacionais. n

 

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