Desde ontem está sendo realizado em três cidades do Cariri - Juazeiro do Norte, Crato e Nova Olinda - o I Seminário Internacional do Patrimônio da Chapada do Araripe com o objetivo de transformar esse acidente geográfico e sítio arqueológico (que atravessa os estados do Ceará, Piauí e Pernambuco) em Patrimônio da Humanidade. O evento conta com a presença de agentes culturais da região, mestras e mestres da cultura popular, palestrantes internacionais e nacionais e representantes institucionais, tanto do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), como da Associação de Gestores Culturais do Algarve, dentre outros.
No encerramento do evento (sexta-feira 9), um dossiê com as conclusões do encontro (que incluirá a contribuição da discussão acadêmica das Universidades Regional do Cariri e de Lisboa, enfatizando a importância antropológica e arqueológica dos povos ancestrais e dos biomas da Chapada do Araripe) será concluído para ser enviado à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Além disso, serão inaugurados três Museus Orgânicos dos Mestres de Cultura Tradicional do Cariri.
Na Chapada do Araripe abriga-se um sítio paleontológico de referência internacional, graças à qualidade do material aí localizado que hoje povoa museus de várias partes do planeta e tem dado uma contribuição especial à Paleontologia. Infelizmente, até num passado recente atraiu a cobiça do comércio ilegal de fósseis que causou uma grande sangria no seu patrimônio fossílico. Não é para menos: basta dizer que aí foram encontradas diversas espécies de dinossauros, tais como o Santanaraptor placidus, Angaturama limai, Irritator e Mirischia asymmetrica, além pterossauros, como o Maaradactylus kellneri. Este viveu no Nordeste há 111 milhões de anos, se alimentava de peixe e tinha 'a anatomia perfeita' segundo pesquisadores, com seus 8,5 metros de comprimento, de uma ponta a outra das asas. Sem falar num vasto depósito de fósseis ictiológicos, cuja abundância e qualidade extasiou os pesquisadores.
A área também abriga uma Flona (floresta nacional), com espécies raras de fauna, como o pássaro Soldadinho-do-Araripe (ameaçado de extinção), uma APA (área de proteção ambiental,) e um geoparque já reconhecido pela Unesco. Em sua bacia habitam povos tradicionais depositários de uma rica cultura popular que se expressa em diversas veias artísticas: literatura de cordel, artesanato, música, culinária e folclore. Esse repositório magnífico de formação natural e humana, que se expressa nas riquezas naturais, na cultura e na criatividade da sua gente tem tudo para ser elevado à categoria de Patrimônio da Humanidade.