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Antonio Jorge Pereira Júnior: As queimadas de Macron e da oposição
Opinião

Antonio Jorge Pereira Júnior: As queimadas de Macron e da oposição

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Antônio Jorge Pereira Júnior
Doutor e mestre em Direito - USP, professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Direito da Unifor
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Antônio Jorge Pereira Júnior Doutor e mestre em Direito - USP, professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Direito da Unifor

As queimadas na Amazônia deveriam alavancar Emmanuel Macron e a oposição à Jair Bolsonaro. Todavia, desdobramentos políticos voltaram-se contra o francês e não reverteram em todo o lucro político desejado pela oposição.

Macron foi desmoralizado por foto publicada em seu Instagram, de 1998, como se fosse de 2019, com anotação falsa sobre Amazônia ser "pulmão do mundo". Tais deslizes mostram ignorância incompatível com alguém comprometido com a causa ambiental. Também sofreu revés do G7 em face de sua proposta de retaliação econômica ao Brasil e ao acordo União Europeia-Mercosul pelo desmatamento, efeito pretendido por razões nada ecológicas, senão puro protecionismo francês. A tentativa de manipular a situação terminou por queimar o próprio Macron.

No Brasil, seu discurso de intervenção internacional na Amazônia gerou apoio à Bolsonaro ("O efeito Macron: Francês deu a Bolsonaro o discurso aglutinador de 'soberania' e 'patriotismo' ", O Estado de S. Paulo, 30/08). Isso permitiu ao capitão assumir a agenda e decretar controle militar sobre a região. Em outro contexto, a oposição gritaria, mas teve de se silenciar em face da necessidade de "medidas urgentes".

No plano internacional, Bolsonaro recebeu apoio das três principais economias ocidentais e recompôs a relação com Angela Merkel, a primeira a se contrapor a Macron.

A constatação de incêndio nos Estados vizinhos, devido à seca, evidenciou que a tal situação não decorre de simples negligência proposital do Brasil, como tentou fazer crer a oposição. Estudo publicado pela Fiesp esvaziou parte dos alarmes exacerbados, ao comparar dados de vários anos. Ao lado disso, surgiram indícios de ação criminosa para alargar o incêndio: além de grileiros, pessoas vinculadas a órgão de proteção ambiental foram flagradas ateando fogo na floresta no Pará. Infelizmente também houve oportunismo em parte da oposição. Noam Chomsky, intelectual marxista em passagem por São Paulo, disse que a "crise na Amazônia tem de ser ponto de inflexão para oposição brasileira" (Folha de S. Paulo, 28/08). Celebrava a tragédia. Tal qual outrora a anticorrupção serviu de trampolim para muitos deles chegarem ao Poder, sem que de fato lhes interessasse ser honestos, como se viu depois. A ecologia soa a moeda falsa em certos oposicionistas. Déjà vu. Em cearês: sei... 

 

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