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Editorial: A trava do analfabetismo de jovens e adultos
Opinião

Editorial: A trava do analfabetismo de jovens e adultos

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Tipo Notícia

O Dia Internacional da Alfabetização, transcorrido no último domingo, trouxe um dado que ainda repercute neste início da semana: ainda existem em todo o planeta 750 milhões de jovens e adultos que não sabem ler nem escrever, segundo a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). Ou seja: no ano passado, em todo o mundo, cerca de 260 milhões de crianças e adolescentes não estavam matriculados em escolas. No Brasil, de acordo com os últimos números (2018) levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essa faixa abrange 11,3 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais.

A partir dos dados gerais pode-se projetar que, se todas essas pessoas morassem em um único país, a população só seria inferior à da China e à da Índia, que têm cada uma mais de 1 bilhão de habitantes. Ou, em termos de Brasil: se todos analfabetos brasileiros residissem na mesma cidade, este lugar só seria menos populoso do que São Paulo - com população estimada de 12,2 milhões. A taxa do chamado "analfabetismo absoluto" no Brasil é de 6,8%.

Quando o foco se dirige para o gênero, constata-se que nesse contingente, no Brasil, pertencem ao sexo feminino duas entre cada três pessoas que não sabem ler. E se a referência é a cor ou a raça, vê-se que 3,9% das pessoas analfabetas de 15 anos ou mais são de cor branca, subindo para 9,1% se forem negras ou pardas.

Ao tratar de equacionar essa questão, o poder público brasileiro tem-se equivocado ao fazer a leitura de que mais vale concentrar os investimentos em educação básica, deixando de lado, ou secundarizando, a Educação de Jovens e Adultos (EJA). A justificativa para secundarizar essa faixa é a de que a "dinâmica demográfica" (renovação das gerações), supostamente levaria à extinção paulatina do analfabetismo absoluto. O que se configuraria um ledo engano, segundo especialistas, uma vez que se continua a produzir analfabetismo e a prolongar seus efeitos na medida em que as pessoas estão vivendo mais. Ou seja, não se trataria apenas de um resíduo do passado.

Ademais existe o analfabetismo funcional mediado pelo sistema educativo, o que é, sem dúvidas, um enorme problema social. Três em cada dez jovens e adultos de 15 a 64 anos no Brasil são considerados analfabetos funcionais. São 29% do total, o equivalente a cerca de 38 milhões de pessoas, classificados nos níveis mais baixos de proficiência e escrita, conforme pesquisa do Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf) no Brasil - 2018. É difícil qualquer avanço na educação se persistir essa distorção que reflete bem os desajustes da sociedade brasileira, fator alimentador do subdesenvolvimento pessoal e nacional. São desafios que parecem longe de serem entendidos pelas novas autoridades educacionais, em nível federal. 

 

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