Em um cenário de indefinições e crises, multiplicam-se as dúvidas sobre as eleições de 2020. É verdade que os postulantes já começaram a se movimentar em busca de aliados. A disputa guarda uma série de particularidades. Uma das mais importantes envolve o fim das coligações proporcionais, com consequências diretas para a competição majoritária. Teremos também a ampliação do fundo eleitoral, jogando um peso maior sobre os partidos que saíram fortalecidos na eleição legislativa passada - PSL, por exemplo. Além dessas novidades, duas questões merecem uma atenção especial em se tratando de Ceará: a possibilidade de nacionalização da campanha municipal e o nível de esgotamento do ciclo dos Ferreira Gomes.
As últimas campanhas nos maiores municípios cearenses não foram contaminadas pelas jogadas nacionais. As questões locais tiveram um peso maior na escolha do eleitor e nas articulações dos atores políticos. Tendo em vista o maremoto que ocorreu no pleito de 2018, não se sabe até que ponto essa equação se manterá. E se as campanhas incluírem temas morais ou mesmo revitalizarem a polarização bolsonarismo versus lulismo? Caso isso ocorra, podemos ter outro tipo de disputa. Com relação aos Ferreira Gomes, o ciclo político que predomina no Ceará desde 2007, não há demonstração visível de esgotamento. Na campanha de 2016, o grupo alcançou resultados positivos em colégios eleitorais essenciais, além de deter a liderança dos principais espaços de poder. Entretanto, vários prefeitos enfrentam os desafios da crise econômica. Em Fortaleza, não existe um sucessor natural e a cidade vivencia problemas sérios em áreas sensíveis como saúde e educação. Além disso, a oposição avança célere sobre a base do prefeito. O ciclo dos Ferreira Gomes conseguirá se adaptar aos novos ventos da política?
É cedo para apontar possíveis caminhos, contudo, a depender das duas questões acima levantadas, saberemos se a eleição municipal de 2020 será surpreendente ou se repetirá a lógica dos embates anteriores. É provável que tenhamos uma arena com muitos candidatos e o uso intensivo das redes sociais. Em todo caso, as regras e o próprio modelo de campanha estão em plena mutação! Se essa metamorfose será suficiente para alterar interesses, composições e o próprio jogo político aí já é outra história.