A graça da casa daquela pobre senhora era a gata a amamentar os quatro filhotes. Acontece que na casa do vizinho tinha um criador de pitbull, para quem ter esse tipo de cão dá a sensação de poder e potência. Empoderado, o homem reinava ali e sequer cuidava de colocar coleiras em seus cães perversos ou mesmo de fechar o portão. Um dia, a incauta gatinha-mãe passava na rua, sendo alvo do instinto da fera, que a destroçou em poucos segundos, deixando o chão cheio de sangue e vísceras.
Triste alegoria do tempo que vivemos. A classe dominante brasileira, capatazia do grande capital, apoia as forças de repressão, banaliza a violência e a morte, enquanto a população é mantida na miséria e alienação, através do desemprego e do trabalho semiescravo. Seria essa elite tão ignorante, fria e perversa, quanto o ancestral colonizador? Entre a massa manobrável de submissos, ela vai buscar os agentes da violência, os capitães do mato mais rasteiros para que façam o trabalho sujo.
Há alguma evidência mais explícita do vigor da mentalidade escravocrata em ascensão, como a que circunda o acontecido no supermercado Ricoy? Por roubar uma barra de chocolate, um rapaz é preso, amordaçado, despido e açoitado, com um chicote de arames de cobre, por dois seguranças. Milhares de pessoas robotizadas correm às redes sociais para elogiar os torturadores e enaltecer o presidente da República, que está sempre a defender a tortura, embora os pastores fundamentalistas neopentecostais o tenham como um suposto enviado de Deus.
Em tempos de neofascismo - que é uma doença psíquica coletiva com grande risco de contaminação - precisamos de redobrados cuidados. É quando os homens frágeis e covardes cercam-se de pitbulls, capitães do mato, torturadores e milicianos, para manter a população submissa e servil, através do medo e da mentira. Aqueles que são capazes de alguma delicadeza - posta, por exemplo, no gesto simples de criar uma gatinha e ver a alegria de crianças brincando com seus filhotes - que tenham cuidado. Os pitbulls estão soltos e não choram pelos gatinhos órfãos.