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Regina Ribeiro: Breve ensaio sobre a estupidez
Opinião

Regina Ribeiro: Breve ensaio sobre a estupidez

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Regina Ribeiro, jornalista do O POVO (Foto: divulgação)
Foto: divulgação Regina Ribeiro, jornalista do O POVO

De acordo com Houaiss, o termo estupidez "designa ação ou palavra de pessoa sem discernimento ou senso, tola, inepta, indelicada". Tais definições me levam a pensar que um estúpido é, sobretudo, um valente. Valentia - diferente de coragem -, no sentido do destemor, tem um quê de estupidez por ser estimulada, na maioria das vezes, unicamente pelo desejo de vingança. O valente que ir à forra, não importa o que aconteça. Quer revelar sua verdade, embora a estupidez não o deixe perceber como se torna uma presa fácil das mentiras que pautam a narrativa ilógica que lhe acomete.

O estúpido não liga para a realidade. Ao contrário, ela passa a ser, às vezes, até um obstáculo para a máscara do real que o envolve. O estúpido está fincado numa única versão de todos os fatos: a que ele acredita e defende. As demais não passam de engano. Dos outros. O estúpido, antes de qualquer coisa, é um ser acovardado diante de sua própria ignorância na qual se enrosca na viva esperança de ser compreendido. Afinal, é apenas um estúpido. A estupidez não tem dúvidas, e quando faz perguntas é tão somente para confirmar sua fé numa realidade manca, reflexo de um olhar embotado.

Enquanto atinava para a estupidez, encontrei o livro As leis fundamentais da estupidez humana, de Carlo M. Cipolla, historiador econômico e medievalista italiano. Com ironia e bom humor, Cipolla apresenta as cinco leis frequentes nas ações de pessoas estúpidas, das quais escolhi três. A primeira delas diz a seguinte: "Sempre e inevitavelmente cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos em circulação". Talvez por isso, não conseguimos entender como há tantos estúpidos no Brasil ocupando cargos relevantes.

A terceira lei fundamental considera que "uma pessoa estúpida é aquela que causa dano a outra pessoa ou grupo de pessoas sem, ao mesmo tempo, obter qualquer vantagem para si ou até mesmo sofrendo uma perda". Aqui é importante observar que os estúpidos sempre encontram pares e juntos selam uma espécie de pacto para fortalecer a estupidez.

A quinta lei de Cipolla, talvez seja a que mais devemos prestar atenção: "A pessoa estúpida é o tipo mais perigoso que existe". O livro de Carlo Cipolla se transformou em peça de teatro na França nos anos 1990, foi traduzido no Brasil em 2006 quando ainda faltavam 13 anos para o início do Ano da Graça da Estupidez. 

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