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Emmanuel Furtado: O imponderável e o imprevisível
Opinião

Emmanuel Furtado: O imponderável e o imprevisível

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Emmanuel Furtado
Desembargador corregedor do TRT e professor da UFC
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Emmanuel Furtado Desembargador corregedor do TRT e professor da UFC

A semana não começara boa. Na hora do almoço do domingo, enquanto esperava meu pai chegar ao restaurante, recebera a notícia de falecimento de adolescente, filho de amigos nossos. Ficara pasmo. O apetite se fora. Mas não achara oportuno noticiar tal fato a meu longevo pai de 83 anos e almoçara quieto e pouco, na ânsia de me deslocar para o local do velório...

Os dias se arrastaram, quanto mais para os pais do rapaz. Amanhecera a segunda-feira com uma dor insuportável no ombro direito, na região da clavícula, não me permitindo sequer segurar o aparelho de barbear para me apresentar no trabalho. Tentara fazer uma retrospectiva de atos para estabelecer uma conexão com tão inédita, sub-reptícia e intolerável dor. Tensão do que vivenciara em relação à morte do jovem, de cunho emocional? Mas dor localizada e ininterrupta? Não me recordara de qualquer pancada em tal região. Voltara um pouco mais no tempo. Há um semestre contraíra uma epicondilite, a saber, uma inflamação no epicôndio, osso que fica na altura do cotovelo, no meu caso no esquerdo, enquanto o ombro que doía era o direito. Matara a charada! Tentando não vir a contrair nova epicondilite resgatara do quarto do meu filho caçula uma maromba de 5 kg.

Exagerara nas repetições e no peso da maromba, pois o que viera praticando era a corrida leve, que em quase nada toca os membros superiores. Não dera outra: feito o raio x, a conclusão: artrose acrômio-clavicular, para nós, leigos, inflamação na parte superior da clavícula, frequente nos atletas em esforço mais pesado, ou em atividades de esforço repetitivo. Prescrição médica: antibióticos, sessões de fisioterapia e nunca mais pegar pesado em qualquer atividade física que já não viera sendo feita com regularidade. Na minha condição de leigo as consequências da lesão se enquadraram no imprevisível. Já a morte é o imponderável, mas para os que ficamos e somos próximos dos que se vão o tempo traz consigo senão a cura dos supérstites, o unguento da saudade de quem se gosta de lembrar e a alquimia das boas lembranças vivenciadas com o arrebatado "pela indesejada das gentes". 

 

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