A análise crítica que o filósofo Erasmo de Roterdã faz na obra Elogio da Loucura, de 1509, nunca esteve tão atual. Nela, de forma criativa, o autor denuncia a hipocrisia e a intolerância que marcavam a Idade Média. A ausência da razão, é bem verdade, sempre esteve presente ao longo da História, com mais ou menos força. E é no Brasil de hoje que a loucura volta a ter papel protagonista. Predatória, ela pinta e borda diante do enfraquecimento das instituições, da baixa perspectiva de melhorias futuras, do esgarçamento das relações sociais. Eleva figuras grotescas para postos importantes de poder, dá voz a desqualificados, ameaça nossa democracia.
A recente revelação do ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de que planejou assassinar o ministro do STF Gilmar Mendes, é o exemplo mais grave e recente do momento descontrolado que vivenciamos. Imaginem o País que teríamos hoje caso Janot tivesse concretizado o crime. A "mão de Deus", como ele mesmo disse, evitou o pior, mas não deixa de ser uma inconsequência das mais graves alguém com esse grau de importância tornar pública esse tipo de coisa. Ainda mais nesses tempos em que a violência se torna método para o alcance de determinados objetivos.
Não à toa que, poucos dias depois, o policial civil Alberto Vieira Júnior, assessor parlamentar do deputado André Fernandes (PSL), postou vídeo nas redes sociais dando dez tiros em uma fotografia do ex-presidente Lula. Mais uma apologia a comportamentos negativos cujos efeitos podem ser devastadores.
Ainda nesta semana, durante um voo, um passageiro constrange o deputado José Guimarães (PT) com acusações e xingamentos. Nada justifica depreciar uma pessoa desta maneira, expô-la de forma tão virulenta, humilhá-la. Uma tentativa de fazer Justiça com as próprias mãos destilando ódio e falta de educação.
Casos como esses se juntam à lista de outros absurdos que vão deixando a nossa política ainda mais miserável. As pessoas estão doentes e não conseguem se dar conta disso. Sobem em palanques, vociferam na Internet, quando o que deveriam era estar procurando tratamento. Haja psiquiatra para o tamanho do hospício que virou o Brasil.