Logo O POVO+
Editorial: Desastre ecológico: Nordeste quer indenização
Opinião

Editorial: Desastre ecológico: Nordeste quer indenização

Edição Impressa
Tipo Notícia

A dimensão da tragédia ecológica que se abateu sobre o litoral do Nordeste em decorrência do gigantesco derramamento de óleo, de origem ainda não identificada, alarga-se cada vez mais. Já se sabe que o desastre se perfila entre as maiores catástrofes mundiais desse tipo. Foram recolhidas, em apenas dois dos nove estados nordestinos afetados pela mancha negra, 160 toneladas de petróleo, pelo menos. As perdas são tão impressionantes que o Nordeste não poderá enfrentar a situação sem um decisivo empenho nacional e a solidariedade científica e financeira internacional.

Basta dizer que já se eleva a 132 o número de praias comprometidas pela contaminação química. Especialistas em manejo de ecossistemas costeiros alarmam-se diante do impacto produzido no ecossistema marinho da região. Sabe-se que além de liberar substâncias tóxicas na água e de se impregnar na pele dos animais, o óleo menos denso fica na superfície e bloqueia a radiação solar, impedindo os fitoplanctons de fazer a fotossíntese necessária à manutenção da vida marinha.

Os danos estendem-se aos manguezais, locais considerados berçários do oceano, pois é ali que as espécies marinhas encontram o ambiente para depositar ovos e proteger suas crias. A mortandade nas espécies marinhas - peixes, crustáceos, tartarugas e aves aquáticas - é uma realidade dolorosa. E o lençol de óleo depositado no leito do mar e dos mangues levará de 10 a 20 anos para se diluir, segundo as estimativas.

Outros prejuízos atingem em cheio a indústria turística surgida no rastro do atrativo oferecido pelas belezas naturais que fazem do Nordeste uma das áreas mais promissoras para essa atividade, sintonizada com as vertentes mais dinâmicas da economia contemporânea. Trata-se de um golpe para o Nordeste, que aposta suas fichas nessa alternativa.

O lamentável é que o primeiro pedido de socorro disparado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) só foi concretizado 12 dias após a primeira notícia de que o litoral do Nordeste estava sendo afetado por um desastre ambiental.

Quanto às causas do derramamento de óleo, nada ainda está esclarecido. Suspeita-se de um descarte ilegal por algum navio, ou até mesmo de vazamento de algum poço venezuelano (esta última hipótese viria do Planalto). Se assim fosse constatado, o governo brasileiro deveria, responsavelmente, apresentar as provas, antes de fazer especulações num terreno tão minado, geopoliticamente. De qualquer forma, seja quem for o culpado, o Nordeste (o Ceará incluso) espera justa indenização.

Uma das lições a ser tirada desse desastre é que o Brasil (detentor de um extenso litoral de 7.367 km) desperte para a necessidade de investir seriamente em pesquisa científica e tecnologia marinha para responder aos desafios que esse patrimônio lhe impõe. 

 

O que você achou desse conteúdo?