No papel, o número de crimes violentos no Ceará caiu. A realidade é outra, como bem sabe quem caminha pelas ruas do Estado e teve sua rotina abalada por mais um veículo incendiado, mais um ataque coordenado, mais uma família chorando pela perda do seu ente querido.
Há décadas as políticas de segurança pública pulam de emergência em emergência, traduzindo-se na truculência policial, nas mortes de inúmeras pessoas, no encarceramento em massa, além do uso de instrumentos questionáveis como intervenção militar e das Forças Nacionais.
O Brasil não está em guerra como insistem os governantes para justificar uma política que desrespeita direitos humanos básicos. Somos todos brasileiros e brasileiras vivendo uma grave crise de segurança pública onde o Estado não assume sua responsabilidade de pôr em prática ações efetivas que previnam o crime e tragam segurança para a população. E quem sofre são as mais de 57 mil pessoas que foram assassinadas em 2018 no Brasil, principalmente jovens negros e pobres, e, consequentemente, suas famílias, comunidades e o País inteiro.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019, 87 policiais foram mortos em serviço em 2018 - mas outro número também chama muita atenção: 104 policiais cometeram suicídio no mesmo período. Policiais vem sendo expostos à riscos, erros operacionais, baixa remuneração, treinamento precário e uma grande pressão por resultados, desencadeando sofrimento e mortes, de jovens, de crianças e deles próprios. É preciso que as autoridades se comprometam com a proteção de todas as vidas, seja de moradores das comunidades pobres, seja de policiais. Todas as vidas importam!
A Anistia Internacional olha com preocupação as graves violações dos direitos humanos no Brasil e fomos a Brasília, em maio deste ano, apresentar ao Governo Federal medidas concretas que podem contribuir com a redução da violência e melhorias efetivas na segurança pública. Entre elas estão a não flexibilização do porte e posse de armas, a manutenção de uma política de drogas pautada pela promoção de saúde e proteção dos direitos humanos de usuários, repúdio ao retrocesso na política nacional de drogas, evitando o atual enfoque ineficiente de "guerra", punição e mortes. E que o Governo desenvolva uma Política Nacional de Segurança Pública que tenha como objetivo a preservação das vidas.