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Valmir Lopes : Candidaturas avulsas
Opinião

Valmir Lopes : Candidaturas avulsas

Edição Impressa
Tipo Notícia
Valmir Lopes 
Cientista político e professor da UFC
lopes.valmir@gmail.com (Foto: Acervo Pessoal)
Foto: Acervo Pessoal Valmir Lopes Cientista político e professor da UFC lopes.valmir@gmail.com

A inteligência humana tem dado provas de poder de adaptação em todas as épocas. Regras instituídas com o propósito de beneficiar o interesse público são corrompidas pelo interesse privado. É curto o tempo entre a instituição da regra e sua apropriação por interesses privados. Daí surge a necessidade de mudanças constantes das regras do jogo.

O efeito mais notável da Operação Lava Jato sobre a política brasileira foi criar uma sombra de descredito sobre os partidos tradicionais. Mas, muito antes, surgiram movimentos organizados da sociedade civil voltados para renovação política, atraindo atores sociais até então distantes e indiferentes ao destino político da sociedade. Na eleição passada grupos como RenovaBR, Agora!, Livres, Raps, Acredito e MBL conseguiram juntos eleger congressistas e deputados estaduais por legendas usadas como barriga de aluguel.

Como não poderia ser diferente, os partidos tradicionais reagiram à renovação ao garantir o financiamento totalmente pública à atividade política. De quebra denunciam os vínculos desses novos grupos com ideologias liberais.

Somente a saturação das antigas regras de governabilidade permite explicar a eclosão desses novos atores políticos. Contudo, para muitos analistas essa renovação nasce com uma forma antiga. Explico: esses grupos formam redes de apoiadores oriundos das redes sociais, mas representariam a velha prática "clientelista", muito semelhante a outras formas de organização evangélicas e setores sindicais. A diferente entre eles seriam apenas os meios empregados para a eleição de seus representantes: uma figura notável que mantem seguidores em redes sociais e com isso pode se elevar como representante orgânico desses apoiadores.A representação de segmentos determinados de eleitores com perfil definido é uma estratégia usual no atual sistema proporcional brasileiro.

Outros criticam o intuito dessa renovação por fora dos partidos. Acreditam que o correto seria a disputa de poder dentro dos próprios partidos atuais. Temem que a democracia possa se fragilizar com o descrédito do partido como agência aglutinadora da opinião pública e formulador de políticas públicas. Esquecem, entretanto, que o Brasil é um caso notável de vida política que nunca teve os partidos políticos como agentes organizadores do debate público.

Questionável e elogiado, o certo é que essa renovação da política brasileira ocorre de forma lenta. Agora um novo ingrediente será introduzido pelo STF quando julgará brevemente ação que permitiria a existência de candidaturas avulsas. A candidatura avulsa seria a glória e consagração para os movimentos de renovação da política porque significaria romper definitivamente o monopólio da representação parlamentar pelos partidos. Esse tipo de candidaturas fora das organizações tradicionais teria efeito de tencionar os atuais partidos no sentido de sua maior democratização e transparência. Acima de tudo, aplicada no nível municipal, permitiria um experimento político valioso para avaliar até que ponto seria possível e desejável aplicá-la também a esfera estadual e federal. 

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