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Henrique Araújo: As hienas no poder
Opinião

Henrique Araújo: As hienas no poder

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Henrique Araújo (Foto: O POVO)
Foto: O POVO Henrique Araújo

O folclore consagrou as hienas como predadores cujo cardápio se constitui de nacos de outros bichos e carcaças deixadas para trás. Atacam em bando, atocaiando uma presa desgarrada, e têm sempre a expressão de que se riem da desgraça alheia. Não diria que exagero ao afirmar que esses animais representam bem não os adversários do governo, mas a família presidencial, na qual se incluem o pai e os três filhos parlamentares.

Nomeá-los é dispensável. Todos sabemos quem são e, pelos rosnados recentes de desapareço à democracia e jorros de raiva incontida, aonde pretendem chegar. Faz pouco, o patriarca da alcateia fez circular um vídeo no qual figura como leão, embora, na prática, de "rei da selva" tenha bem pouco: talvez uma cobra de peçonha, que inocula veneno dia sim, outro não, a fim de atraiçoar as instituições e intoxicar o ambiente, cobrindo-o de fumaça sempre que algum embaraço o constranja - um ou dois Queiroz, por exemplo.

Como agora, ao anunciar que suspenderia a assinatura de um jornal crítico, a exemplo de qualquer bom jornal, mostrando que o cerco autoritário vai se fechando pouco a pouco ante o mero exercício da divergência. Mas o pai não age sozinho. Está avizinhado de outros carniceiros que debocham e se lambuzam à medida que a confusão se acirra.

Entre eles, há um muito loquaz cujo apetite para o golpismo se revelou com todas as letras numa entrevista veiculada ontem. Nela, a hiena, até outro dia aspirante a embaixador nos Estados Unidos, ameaça com repressão se os brasileiros insatisfeitos, como os chilenos e os argentinos, puserem-se nas ruas a protestar. Desculpou-se horas depois, é verdade, mas quem acredita na veracidade dessas "escusas", para usar uma palavra do gosto de outra hiena?

Disso tudo, resta a impressão, cada vez mais nítida, de que os predadores armam um bote. Os sinais de ataque se acumulam. À noite, e também à luz do dia, arriscam investidas, ora ao Supremo Tribunal Federal, ora ao Congresso, ora aos partidos políticos, ora à imprensa. Não estão lá fora, mas aqui dentro. Ensaiam passos de uma dança macabra que zomba das águas repletas de óleo e das florestas comidas pelo fogo. É bom que estejamos atentos. 

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