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Tales de Sá Cavalcante: Gol iluminado
Opinião

Tales de Sá Cavalcante: Gol iluminado

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O jogo era Dinamarca x Irã. O ano era 2003, mas as imagens ainda circulam na Internet. Nos últimos minutos do 1º tempo, todos esperavam o apito final. O goleiro do Irã, ao ver o zagueiro de seu time próximo e na sua grande área, passa-lhe a bola. Ato contínuo, ouve-se um som vindo de um apito. Muitos pensam: é fim da 1ª etapa. E o zagueiro, como diria o saudoso Ivan Lima, recolhe o "balão de couro" com as mãos para entregá-lo ao árbitro. Porém, o juiz não havia findado o 1º tempo. Aquele som viera de um apito da plateia. O que decide o árbitro? Ora, se ele não tinha decretado o fim da peleja e o jogador pegara a pelota com as mãos dentro da grande área, não havia dúvida.

Pênalti. O placar era 0 x 0, e a Dinamarca seria beneficiada com um gol quase certo. Se o jogo fosse narrado pelo sempre jovem Gomes Farias, em caso de gol, ele diria: "Tome, tome, tome… tome bola…" Após conversar com o treinador Olsen, o jogador dinamarquês MortenWieghorst coloca a bola em seu devido lugar e impulsiona-a propositadamente para fora. Entre um gol de ética e um injusto, prefere o primeiro.

Depois de sofrer um gol de pênalti e de o juiz não conceder um segundo, dessa vez legítimo, a Dinamarca perdeu por 1 x 0. Perdeu? Não. A equipe dinamarquesa ganhou. O país ganhou. E quem viu presencialmente ou pela TV ganhou. O gesto muito explicou. Por exemplo, o baixíssimo índice de corrupção da Dinamarca.

É assim que se ensina Ética. Um valor a ser vivenciado na família, nas escolas e na vida. É assim que os cidadãos dinamarqueses mostram às suas crianças o que se espera delas. Que um ganho imediato pode ter um custo muito alto e que uma perda momentânea pode significar a manutenção de uma conquista muito mais importante.

No momento em que a bola foi dirigida intencionalmente para fora, o placar poderia ter apresentado letras brilhantes para todo o mundo ver, vibrar e aplaudir. Pelo brilho do jogador e do técnico expresso em suas atitudes, podem ambos ser considerados iluminados pelo craque das letras Genuino Sales, para quem estes "são os que nunca se intimidam na defesa da honra e da verdade". n

 

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