No meio da semana passada fomos surpreendidos por matérias em jornais que mostravam os resultados atuais, das cotas, nas universidades. A manchete chamava atenção: "Negros são maioria nas universidades públicas do Brasil pela primeira vez". Uma manchete dessas deve-se olhar com cuidado. Por que?
Porque é uma realidade complexa e que foi pouco analisada. Vejamos, de acordo com Juliana Borges, escritora e feminista negra, ao refletir sobre a matéria, afirma que toda pessoa que trabalha com política pública com seriedade sabe que determinadas políticas alcançaram mais os "pardos" que pretos. Em "pardo" entra muita coisa, inclusive pessoas de ascendência indígena e que não se entendem indígenas. Esse dado levantado por Juliana não toca nem na questão do oportunismo branco.
Há várias matérias sobre casos de brancos que se inscrevem em políticas de cotas se afirmando negro. Eu já participei de bancas de cotas e vi muitos brancos se auto reconhecer negros. Negros, não pardos. Deste modo, fica a questão: como se chegou a esta conclusão de que há um número de negros no ensino superior maior que os de brancos? Será que foi através de algum registro de dados que pergunta sua cor ou etnia? Ou houve visitas às Universidades e se constatou que há nas salas um número de negros e pardos maior que o de brancos?
Se não houve visitas as IES, esse dado pode ser falacioso. Fazendo uma visita a qualquer faculdade e universidade do Ceará é evidente uma presença negra nos diversos cursos. Entretanto, ela não é superior aos brancos ali. Os brancos continuam sendo o grupo hegemônico e privilegiado neste espaço.
Desta forma, é importante refletir sobre outro ponto que considero importante. Na atual conjuntura política, marcada pelo desmonte das políticas públicas e sociais e frente a uma realidade tão complexa que são as cotas fica a pergunta: a quem interessa matérias como estas, com pouca profundidade? Será que há uma tentativa de naturalizar a ideia de que, a política de cotas já alcançou seu objetivo e portanto não precisará mais ser utilizada? É possível que haja esta intenção? Talvez.
Penso que é preciso olhar com mais cuidado os dados. Estes são alguns questionamentos que faço, pois ando nos IES e vejo que há negros e negras, porém ainda somos poucos. n