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Marília Closs: Lições sobre a Bolívia
Opinião

Marília Closs: Lições sobre a Bolívia

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Marília Closs
Pesquisadora do Observatório Político Sul-Americano (OPSA) e do Núcleo de Estudos em Teoria Social e América Latina (Netsal)
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Marília Closs Pesquisadora do Observatório Político Sul-Americano (OPSA) e do Núcleo de Estudos em Teoria Social e América Latina (Netsal)

Num primeiro momento, depois das eleições, múltiplos movimentos, críticas e demandas a Evo Morales e ao MAS (Movimento ao Socialismo) tomaram as ruas na Bolívia. Em meio a isto, os comitês cívicos - sobretudo de Santa Cruz, Potosí e La Paz - avançaram com novas pautas e radicalizaram seus discursos: nem Evo Morales nem Carlos Mesa, segundo colocado nas eleições, serviam; novas eleições, tampouco; a renúncia imediata de Evo Morales era a única solução - e isto seria conseguido, nem que fosse por meio da ameaça e da dissuasão.

O segundo momento inicia quando Luiz Fernando Camacho, sua bandeira e sua Bíblia entram no Palácio Quemado, dizendo que "saía Pachamama e entrava Deus" no controle sobre o Estado boliviano.

A partir daí, o fascismo passou a dirigir o processo: atropelou organizações e movimentos populares, fossem do MAS ou à esquerda dele; controlou e conduziu os rumos da história política destes últimos pouco mais de vinte dias no país.

O golpe veio - e veio de uma direita que não é a neoliberal: é fascista, violenta, racista e misógina. O processo contou com a anuência das Forças Armadas e policiais? Contou. No entanto, o papel da dissuasão ficou com a figura do miliciano, do paramilitar que atravessou o país em direção à capital para ameaçar toda a constelação social que se organizava ao redor do Estado plurinacional.

O golpe na Bolívia foi dado pela "nova direita" latino-americana - que por óbvio não é apenas boliviana: é também brasileira, colombiana, argentina; não é apenas militarista, militarizada - é também miliciana.

A disputa agora não está somente entre como será decidido quem irá governar a Bolívia: se por guerra, se por eleições, se por artimanhas em cima da Constituição. A disputa é, também, sobre qual é efetivamente o Estado boliviano: é plurinacional? Voltará a ser República? Deixará de reconhecer suas nações originárias? Independentemente do resultado, o que fica claro é que a própria constituição - com c minúsculo - do Estado passa por debates raciais que estão latentes em todo subcontinente. 

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