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Dione Silva: O desafio de ser mulher negra no Brasil
Opinião

Dione Silva: O desafio de ser mulher negra no Brasil

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Feminista negra, militante do movimento negro cearense e da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen)
Dione Silva
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Feminista negra, militante do movimento negro cearense e da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen) Dione Silva

"No momento do meu nascimento, dois fatores determinaram o meu destino: ter nascido negra e ter nascido mulher". A frase impactante é de Bell Hooks, escritora, educadora, feminista, ativista social estadunidense, mas poderia ser de qualquer mulher negra brasileira, pois também fala das nossas vivências e do nosso cotidiano aqui no Brasil, nos provocando uma reflexão sobre a realidade enfrentada por mulheres negras, num País extremamente racista e machista.

O racismo é um sistema de poder estrutural que cria ideologias que visam inferiorizar, desumanizar, invisibilizar e oprimir a população negra em todo o mundo, é o canal formador das desigualdades e em conjunto com o machismo, é o grande responsável pela situação de vulnerabilidade em que encontram-se as mulheres negras. Em relatório apresentado recentemente pela Comissão de Direitos Humanos da OAB-CE, evidencia-se o fato de que 94% das mulheres encarceradas no Ceará são negras. Sobre feminicídio, segundo o Atlas da Violência 2018, apresentado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a taxa de assassinatos que vitimaram mulheres negras cresceu 15,4% na década encerrada em 2016. Estes e tantos outros dados, comprovam que, para que a sociedade brasileira possa alcançar equidade entre homens e mulheres, é imprescindível considerar o recorte de raça, pois o racismo segue sendo o principal causador da manutenção das desigualdades e da violência - simbólica e física, as quais as mulheres negras são submetidas cotidianamente. No entanto, apesar da dura realidade, nós, mulheres negras, estamos ganhando cada vez mais força política, sobretudo por meio do feminismo negro, movimento político que liberta, empodera e contribui para que estas ocupem espaços historicamente negados, como a academia, as mídias tradicionais e alternativas, mostrando que a denúncia deve ser um exercício diário, pois quando não falamos, supõe-se que tal problemática não existe. Por isso, aos racistas e machistas, um aviso: Não retrocederemos! A nossa voz não será silenciada! Não irão nos calar! 

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