Conheci o Júlio quando ele era presidente da Academia Cearense de Ciências. Como cientista, sempre defendeu a extensão das universidades e dos institutos de pesquisa, como forma de educação para o trabalho. Ao pesquisar a manipueira, mostrou o potencial dessa planta como defensivo agrícola e apontou o caminho da extensão para chegar aos agricultores. Recebeu do presidente Lula a medalha do mérito científico. Por sua vez, ao abraçar essa causa, o saudoso jornalista Demócrito Dummar, mobilizou a Fundação Demócrito Rocha e publicou, para divulgação nas escolas, 30 fascículos do Centec, de sua série Como fazer isso.
No contexto atual é importante lembrar que o mundo já viveu quatro revoluções industriais. A Revolução Industrial 1.0, que ocorreu entre 1760 e 1840, teve como suporte as leis de Newton e de Joule. A população mundial, era de 600 milhões de pessoas e o mercado de trabalho passou a demandar muitos empregos na área de serviços. A Revolução Industrial 2.0 aconteceu no período de 1840 a 1900. É considerada a revolução da eletricidade de Faraday e da química do petróleo. Foi nessa época que apareceram as máquinas elétricas e as refinarias. A população mundial avançava para um bilhão de pessoas e o mercado de trabalho buscava profissionais de gestão, manutenção e serviços. A Revolução Industrial 3.0 ocorreu no século XX. É considerada a revolução da ciência porque predominaram os conhecimentos da física, química, biologia e internet. O mundo saltou de um bilhão e seiscentos milhões de pessoas, no início do século, para seis bilhões no ano 2000. O mercado de trabalho se tornou mais difícil porque o avanço da tecnologia exigia do trabalhador conhecimentos especializados. Surgiram, então, os analfabetos funcionais. Na atual Revolução Industrial 4.0 estão em evidência os conhecimentos de nanotecnologia, biotecnologia, inteligência artificial, e outros. Ela é preocupante porque o mundo já está com sete bilhões de pessoas e previsão para dez bilhões em 2050, e a escola distante do setor produtivo.
Nas revoluções industriais 1.0 e 2.0 havia trabalho para os braços, na revolução industrial 3.0 contratamos os cérebros, nas revoluções industriais 4.0 e 5.0 que estão em andamento, teremos que apelar para os corações dos que detêm o poder, e solicitar que alterem o modelo de desenvolvimento, porque os excluídos já são muitos.
Como resolver, no século XXI, a questão do desenvolvimento humano? Como gerar trabalho, quando o avanço tecnológico, que é irreversível, irá resultar na invenção de máquinas que substituirão os homens com mais eficiência e produtividade e quando boa parte da população é funcionalmente analfabeta? O que fazer com milhões de trabalhadores cuja força de trabalho é cada vez menos exigida e quando temos no Nordeste dois milhões de pequenos produtores sem assistência técnica? Temos que discutir, com urgência, um modelo de desenvolvimento que leve em conta as pessoas. As pequenas empresas e a extensão, como dizia o Júlio, devem ser planejadas porque elas empregam e distribuem renda.