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Carlos Viana: Uma lei que existe, mas não funciona
Opinião

Carlos Viana: Uma lei que existe, mas não funciona

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Carlos Viana
Jornalista do O POVO (Foto: Diego Camelo/O POVO)
Foto: Diego Camelo/O POVO Carlos Viana Jornalista do O POVO

No apagar das luzes de 2018, o governador Camilo Santana sancionou projeto de lei de autoria do então deputado estadual capitão Wagner, determinando que bares, restaurantes e hotéis disponibilizem seus cardápios em Braille para atender clientes com deficiência visual.

Embora o Braille não deva ser a única forma de acesso dos cegos ao cardápio, a medida é positiva.

Eu, que sou cego, ao sair com amigos também cegos, sempre precisamos pedir ao garçom que leia o cardápio para que possamos escolher o que comer. Isso é bem desagradável, além de tomar o tempo do profissional.

No entanto, a lei não pegou. No início de 2019 alguns estabelecimentos adaptaram seus cardápios, mas foi um número pequeno, diante dos existentes no Estado.

É preciso que os empresários compreendam que disponibilizar seus cardápios em Braille não é um favor, mas sim garantir acesso a uma informação que já está ali para os demais clientes. Nós consumimos da mesma forma. Bebemos, comemos e, como os outros clientes, pagamos a fatura no final.

Portanto, ter acesso ao cardápio em Braille nada mais é que promover o respeito dos clientes com deficiência visual.

No entanto, a impressão do cardápio em Braille não basta. É imperativo que, ao atualizá-lo para os demais frequentadores, a versão acessível também seja alterada.

Uma vez que meu dinheiro tem o mesmo valor que o do outro cliente sem deficiência, tenho me recusado a ir em locais que não disponibilizem seus cardápios de forma adaptada. Afinal de contas, pago da mesma forma e tenho o direito de ter acesso às mesmas informações que todos.

Ao marcar com amigos para uma noite agradável, na companhia de pessoas queridas e degustando um bom prato, sempre procuro locais que já tenham o cardápio em Braille. É muito bom ter acesso aos pratos e valores. E, ao termos acesso a essas informações, muitas vezes acabamos experimentando comidas que, talvez, não soubéssemos que era vendida ali.

Outro ponto que chama atenção é a inércia de instituições que nos representam. Até agora não vi nenhuma delas irem a público reivindicarem o cumprimento da lei. Sejam associações ou OAB e Ministério Público do Ceará, ambos com comissões voltadas para o direito da pessoa com deficiência. 

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