De acordo com recente pesquisa publicada pelo Datafolha, há 14% da população brasileira a apoiar fortemente Bolsonaro. Este é o mesmo percentual que se aproxima do ideário fascista. A complexa discussão sobre o que é fascismo não cabe aqui, mas já sabemos onde este fenômeno da política da modernidade pode levar. Conhecemos também o que seus apoiadores dirão depois de tudo: como sempre, o pedido de desculpas por não saber que seria como foi. Não é verdade: sabem e sabiam o quê era, e ao quê conduziria.
Como nem tudo está perdido, o pacote anticrime do ministro da Justiça sofreu merecido revés durante sua votação. A versão enviada ao Congresso Nacional já era simbólica: representava a visão pessoal do ministro Moro. Não era produto de uma reflexão mais aberta, como a ouvida e participação de penalistas, de organizações sociais de todos os gostos, a exemplo das inúmeras propostas de reforma dos códigos penal e de processo penal que tramitam há anos nas comissões do Congresso. A Câmara dos Deputados rejeitou a barganha judicial com amplos poderes ao Ministério Público de negociar penas; conseguiu incluir o juiz das garantias, diferente do que colhe provas e instrui o processo; além da inserção da audiência de custódia no Código de Processo Penal e de critérios mais claros e objetivos para a prisão preventiva.
O pacote anticrime é um retrocesso sob qualquer ângulo que seja alisado. Consiste na satisfação incivilizada que o governo de Bolsonaro oferece à população que lhe permanece fiel, apesar de todas as evidências do que o presidente e seu governo representam contra a democracia e o pluralismo político. O pacote dirige-se contra os criminosos de sempre: jovens sem escolaridade; população de baixa renda, pretos e pobres. A miséria jamais será escola da razão. Disso sabe o ministro da Justiça. Porém, incentiva a derrocada da democracia quando defende o pacote, que nada mais é do que um elemento do fascismo: quem responde pelo aumento da taxa de criminalidade são determinados grupos, merecedores, portanto, do extermínio social. Ministro derrotado, democracia vencedora.