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Editorial: EUA x Irã: a cautela necessária contra a tensão
Opinião

Editorial: EUA x Irã: a cautela necessária contra a tensão

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O início da nova década não veio acompanhada da paz, da prosperidade e da harmonia tradicionalmente desejadas em momentos de virada do calendário. Logo na primeira semana de 2020, uma ação militar dos Estados Unidos no Aeroporto de Bagdá, no Iraque, se tornou o ponto central de um preocupante aumento da tensão no Oriente Médio. A morte do general Qasem Soleimani, após ataque a bomba feito por drones na madrugada da última sexta-feira, 3, ligou o alerta em todo o planeta para a possibilidade do início de um conflito bélico com maiores proporções.

Principalmente no que uma eventual guerra entre norte-americanos e iranianos poderia representar para todo o mundo. A curto prazo, chegam ao fim as possibilidades - que já eram remotas - de um novo acordo nuclear com Teerã. Sem falar do crescimento das chances de uma resposta direta contra aliados dos Estados Unidos e inimigos do Irã na região como Arábia Saudita e Israel.

Como a maioria das guerras, esta, caso venha a ocorrer, não seria salutar para ninguém. Uma derrota do Irã representaria a perda de influência xiita em território iraquiano e um grande abalo no regime dos aiatolás, que recentemente chegou aos 40 anos. Para os Estados Unidos, um conflito armado contra o Irã, dono de um poderio militar significativo, não seria resolvido de maneira tão rápida. O que significaria um desgaste a mais para o presidente Donald Trump a dez meses de uma eleição. Sem contar as milhares de vidas de civis e militares perdidas.

Além disso, o panorama econômico global não é propício atualmente para estar sujeito a instabilidades de um conflito armado que mexeria com bolsas em todo mundo e traria variações bruscas no preço do barril de petróleo.

As posturas adotadas por Estados Unidos e Irã nas primeiras horas após o ataque contra Qasem Soleimani não são auspiciosas. De um lado, Donald Trump é imprudente ao provocar, afirmando que o Irã nunca venceu uma guerra, enquanto o secretário de Estado, Mike Pompeo, desdenha de possíveis retaliações do país asiático. Por outro lado, o presidente Hassan Rouhani e o aiatolá Ali Khamenei prometem vingança e respondem que a morte do então general da Guarda Revolucionária Iraniana não ficará impune.

A escalada da violência, no Oriente Médio e em qualquer parte do mundo, é alimentada não só por ações militares diretas, mas também por incertezas trazidas em discursos carregados de acirramento e animosidade. E por uma pouca afeição à cautela, à temperança e ao diálogo, tão raros em períodos de extremismos e polarização ideológica e tão necessários para a resolução de conflitos e para a existência dos tempos de paz. 

 

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