Felipe Neto e Damares Alves me levaram aos corredores e salas de Moordale, a escola onde a série britânica Sex Education se desenrola. Em um vídeo divulgado pela Netflix na quinta-feira, o youtuber surge falando para estudantes e professores da trama sobre os riscos da falta de educação sexual, enquanto chama para mais uma ação comercial. Já a ministra foi destaque nas manchetes anunciando para 3 de fevereiro o início de uma campanha para estimular a abstinência sexual como meio de evitar gravidez na adolescência.
Embora avessa a séries, me vi maratonando episódios para conhecer Otis, o garoto tímido de 16 anos que enfrenta dificuldades em sua fase de descoberta do corpo e da sexualidade. Sem nunca ter tido uma relação sexual, ele não consegue se masturbar. Algumas tentativas resultam em situações constrangedoras e contribuem para aumentar sua repulsa por sexo. Ainda assim, encorajado pelos amigos Maeve e Erick, e guiado pelo que aprendeu com a mãe, uma terapeuta sexual, Otis percebe que é bom em aconselhamentos e decide ajudar colegas da escola a resolver problemas sexuais e de relacionamento.
A ficção em Moordale não está muito distante da realidade dos nossos jovens, penso. Além das dúvidas e insegurança inerentes à idade, os personagens têm que lidar com doenças sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada, consumo de drogas lícitas e ilícitas; questões que no Brasil são como chagas abertas. Otis é o estranho da turma. Não é popular, fala difícil, é virgem. Mas faz o que muitos se negam, ele os ouve. Ouve e incorpora uma ética que lhe permite distanciar-se de si: "Não é sobre mim, é sobre o outro".
Tivesse eu proximidade, ousaria sugerir à ministra reservar algumas horas na agenda para ver Sex Education. Ela certamente veria com as faces ruborizadas as muitas cenas de sexo, é bem verdade, mil perdões. Mas talvez descobrisse algo de útil entre os erros e acertos de uma juventude que se permite experimentar para aprender. Aliás, os caminhos para propor políticas públicas passam por ouvir mais e tolher menos. Não cabe ao Estado dizer como nem o que fazer com o desejo das pessoas, tenham elas a idade que tiverem. Um pouco de ciência não faria mal.