Logo O POVO+
Editorial: Coronavírus: prioridade absoluta
Opinião

Editorial: Coronavírus: prioridade absoluta

Edição Impressa
Tipo Notícia

A confirmação, pelo Ministério da Saúde, de nove casos de suspeita de coronavírus, no Brasil (inclusive um no Ceará), relativos a visitantes brasileiros que estiveram em áreas contaminadas, na China, fez soar o alarme dos órgãos de controle de epidemias. Antes disso, o assunto já ganhava níveis elevados de preocupação nas redes sociais. A grande indagação é se o governo brasileiro tem noção da gravidade da ameaça - como o fazem vários países - e já se adianta na tomada de medidas preventivas para não ser apanhado de surpresa.

O coronavírus integra uma grande família de vírus - conhecidos desde a década de 1960 - e que circulam em animais: sete deles podem ser transmitidos para seres humanos e causar desde um resfriado comum até problemas respiratórios que levam à morte. Foram eles que estiveram por trás de duas epidemias graves recentes: a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, na sigla em inglês) que matou 774 das 8.098 infectadas em 2003, e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers, na sigla em inglês), responsável pela morte, em 2012, de 858 pacientes, dos 2.494 identificados.

Agora, se trata de uma versão mais grave (o 2019-nCoV), descoberto mais recentemente - cuja irrupção na China já produziu 132 mortes naquele país e cuja contaminação já se espalha por 16 países, com cerca de 6 mil infectados.

A inquietação presente nas redes sociais nacionais é compreensível. Afinal, nos últimos tempos, os brasileiros testemunharam uma série de epidemias - dengue, chicungunya, microcefalia e outros males semelhantes - decorrentes de falhas no sistema público de prevenção epidemiológica. Milhares de brasileiros ficaram incapacitados, provisoriamente ou definitivamente (e até perderam a vida), em consequência dessas falhas. Estas ganharam reforço com o estrangulamento do sistema de Saúde Pública em nome do controle dos gastos públicos (sobretudo após a emenda constitucional 95) que instituiu um novo regime fiscal para vigorar nos próximos 20 (vinte) anos. Isso incluiu gastos com pessoal, atingindo em cheio quadros treinados na prestação de serviços públicos de prevenção.

Ainda que seja louvável o combate ao desperdício e ineficiência na aplicação desses recursos, isso não se constitui um valor absoluto. Absoluto é garantir aos cidadãos meios dignos de vida, dos quais a saúde se coloca como prioridade indescartável.

O Estado tem de garantir esses compromissos fundamentais (inscritos na Constituição), de tal modo que a própria organização econômica só se justifica se colocar essas exigências como pré-condição de sua legitimidade. Nem que para isso tenha de tirar mais dos que concentram a maior parte da riqueza nacional. Se for para combater uma ameaça como a do coronavírus, tal pressuposto se torna ainda mais imperativo. 

O que você achou desse conteúdo?