O Brasil vive momentos angustiantes de uma crise sem fim em sua economia, cujo resultado maior é o insignificante PIB de 1,1% (depois de uma promessa de 2,5%), a paralisação econômica, o desemprego nas alturas, e o desalento e a desesperança espraiando-se por cada fímbria do tecido social. Simultaneamente, o País carrega o infortúnio de ter um presidente da República cuja maior parte de seu tempo é dedicada a uma guerra ideológica sem fim contra adversários reais e imaginários, num crescendo de virulência cada vez maior.
Agora, no entanto, ele parece ter ido longe demais ao tentar se antecipar às investigações em curso no Congresso Nacional e no Judiciário em torno de possíveis atos delituosos na eleição, que supostamente o teriam favorecido (como a contratação ilegal de empresas, por apoiadores financeiros, para disparo de milhares mensagens de WhatsAapp, com fake news contra candidaturas adversárias, segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo e de outras fontes). De repente, resolve detonar tudo, ao dizer que houve fraudes que lhe teriam tirado a vitória já no 1º turno, lançando uma pecha de descrédito sobre a Justiça Eleitoral.
A se seguir a lógica do próprio presidente Jair Bolsonaro, se tiver havido fraude nas eleições que o elegeram, estas deveriam ser anuladas e convocado novo pleito eleitoral, para que a legitimidade seja reconstituída. Aliás, é isso que está implícito - desde antes de sua acusação - quando as investigações sobre ilegalidades nas eleições foram iniciadas pelo Legislativo e pelo Judiciário. Só se poderia entender a autoimplosão desencadeada por Bolsonaro como a de alguém encantoado por uma investigação desse tipo que lhe possa parecer desfavorável. Aliás, sua tática tem sido a de antecipar-se ao ataque, quando se vê cercado. Os exemplos são muitos, desde a posse.
Infelizmente, isso se dá no momento em que o País está exangue e completamente frustrado com os resultados de uma performance governamental pífia, confusa e parca de confiança, durante a qual não se realizou nada do que foi prometido aos eleitores, sobretudo, crescimento e emprego. Mais: num contexto de grandes ameaças de uma economia mundial em parafuso e da investida de uma pandemia insidiosa como o coronavírus.
Ao invés de unir a Nação para enfrentar conjuntura tão ameaçadora, Bolsonaro a divide ainda mais com a manifestação marcada para o próximo dia 15 contra os outros dois poderes da República, numa escalada que poderá significar o enterro da democracia e o isolamento do País na comunidade internacional como um pária pestilento.
Com a palavra o Congresso Nacional e o Judiciário para por em pratos limpos, com o auxílio da sociedade, o que se passou, de fato, nas eleições de 2018. As gerações futuras não perdoariam tal omissão.