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Editorial: Pandemia: o enquadramento de Bolsonaro
Opinião

Editorial: Pandemia: o enquadramento de Bolsonaro

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Tipo Notícia

Os últimos episódios da cena política brasileira, envolvendo nova tentativa desastrada do presidente Jair Bolsonaro para demitir o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta expuseram, mais uma vez, o despreparo de um governante desprovido das qualidades de líder à altura das responsabilidades do momento. Foi preciso que os outros dois poderes da República - Legislativo e Judiciário - bem como os militares, o enquadrassem, fazendo-lhe chegar a mensagem de que ele ficaria só, contra todos, se tentasse impor a decisão insensata de demitir o responsável-mor pela articulação da luta contra a pandemia, no Brasil, e pôr abaixo toda a estratégia recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela comunidade científica para debelar a pandemia da Covid-19.

As investidas de Bolsonaro contra o parecer do mundo científico e das práticas postas em andamento por chefes de Estado do mundo inteiro não se baseiam em dados racionais, mas num subjetivismo primitivo. A isso se adicionam traços pessoais de um governante que se crê cercado de "inimigos" e "conspiradores" e com ciúme ante a possibilidade de alguém lhe fazer sombra. E isso tem horrorizado não só os brasileiros, mas a comunidade internacional.

A principal divergência de Bolsonaro com Mandetta é que este tenta seguir critérios técnico-científicos que visam prioritariamente salvar vidas. Não que a economia deva ser desprezada, mas se tiver de ser feita uma escolha, entre os dois interesses, num dado momento, deve-se privilegiar o salvar vidas, mesmo com prejuízo eventual à economia. Isso Bolsonaro não aceita, pois quer fazer valer sua agenda econômica. Ora, essa visão não é compartilhada nem sequer por liberais históricos. A aprovação do "Orçamento de Guerra" é justamente para permitir que o Estado gaste à medida das necessidades impostas pelo combate à pandemia. Não há limites, podendo até emitir moedas, imprimir dinheiro novo, se for preciso. O resto se resolve depois. É o que têm feito todos os países capitalistas.

O Estado surgiu no cenário histórico para defender os interesses coletivos (mesmo quando interpretados pela força hegemônica que o domina). E o próprio interesse do segmento hegemônico, nesta hora de crise absoluta, é salvar os fundamentos da sociedade. O Estado não quebra, quem pode quebrar é o mercado. Assim, abrem-se legitimamente os cofres públicos, não só para salvar vidas - prioritariamente - mas empregos, empresas e os sem-renda. Depois se cuidará de restaurar tudo. 

 

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