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Leandro Vasques: A pandemia e o útil versus o fútil
Opinião

Leandro Vasques: A pandemia e o útil versus o fútil

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Leandro Vasques, advogado criminal, mestre em Direito pela UFPE, doutorando em Criminologia pela Universidade do Porto, Portugal, e secretário-geral da Academia Cearense de Direito (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Leandro Vasques, advogado criminal, mestre em Direito pela UFPE, doutorando em Criminologia pela Universidade do Porto, Portugal, e secretário-geral da Academia Cearense de Direito

A pandemia de Covid-19 nos tem lançado desafios hercúleos em vários setores: em primeiro lugar, na saúde, a guerra é para salvar vidas; na economia, trabalhadores, empresas e governos se desdobram à busca de soluções para preservar a subsistência de todos. No âmbito particular, no seio das famílias e no âmago de cada um que tem passado por esse cenário, talvez o mais grave em várias gerações, as mudanças e as preocupações também não são discretas.

De repente, nossa rotina transmudou-se abruptamente e agora somos compelidos a prestar atenção ao que antes era ignorado. Somos forçados a olhar em nova direção. É certo que essa pandemia vai passar (esperamos que muito em breve), mas os seus efeitos perdurarão por tempo indefinido - talvez para sempre.

Algumas preocupações parecem perder todo o sentido agora: não ter aquele carro ou aquele sapato, não ter roupas daquela grife, não ter viajado àquele lugar, seus filhos não estudarem naquela escola. Um mundo de frivolidades, de cobranças exageradas de êxitos relativos. Agora, mais do que nunca, parece ter relevância a lição de Alexandre, o Grande, que pediu para que no cortejo após sua morte, suas mãos fossem colocadas para fora do esquife, para que todos vissem que deste mundo nada se leva e, com as mesmas mãos vazias que aqui chegamos, daqui nos vamos. Isso deve nos servir de permanente lição.

Com a "forçada" convivência familiar mais próxima, parece mais fácil a conversa franca com seus pais e construtiva com seus filhos, contar histórias antes de dormir; a convivência com os amigos verdadeiros faz falta. Mostra-se o momento de cultivar novos valores: o amor ao próximo, o desprendimento do que não carregamos além daqui, a solidariedade, a prece junto aos nossos; esses, sim, valores inefáveis do homem e de tudo aquilo que ele pode edificar ao longo de sua caminhada na Terra.

Penso que o momento nos convida a repensarmos os valores de nossas vidas, cada um deles, até de nós mesmos, iremos nos tornar mais úteis e menos fúteis. Perceberemos, estou certo, que o que é verdadeiramente importante está a um passo de nossas almas e não custa um centavo sequer. 

 

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