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CONFRONTO DAS IDEIAS
Opinião

CONFRONTO DAS IDEIAS

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Tipo Notícia

Para minimizar o impacto da pandemia da Covid-19 na economia brasileira, empresários têm defendido a reabertura do comércio e o isolamento social apenas de pessoas ligadas a grupos considerados de risco. Você concorda com a proposta?

 

Gilberto Costa 
Diretor da CDL Fortaleza
Gilberto Costa Diretor da CDL Fortaleza

Sim

Entendo que a abertura do comércio varejista, e volta gradativa das atividades de negócios que geram emprego, tornam-se importantes a partir de agora após esse primeiro período de paralisação total, que foi fundamental para conscientização da população acerca da gravidade da pandemia, e aprendizado do novo modelo de comportamento social frente à Covid-19, a fim de proporcionar a sustentação e equilíbrio econômico e social de pessoas e empresas.

Não podemos manter as empresas fechadas por um período maior que vinte ou trinta dias sob pena de gerar uma demissão em massa, tornando o trabalhador sem salário, e provocando a falência das instituições. Fica insustentável manter os empregos sem faturamento. Mesmo havendo intervenções dos governos, esse sistema não se sustenta, pois o Estado também vive do recolhimento de tributos destas mesmas empresas.

Meu posicionamento implica no cumprimento total por parte das organizações empresariais quanto às recomendações de higiene pessoal, uso de EPI, não aglomeramento de pessoas e a proteção do chamado grupo de risco. Meu fundamento, além de outras convicções próprias, se dá pelas informações divulgadas por especialistas da saúde que dizem, primeiro, que o vírus é de fácil contágio, porém de baixa letalidade se compararmos a outros que já circulam entre nós, como o vírus da gripe; e segundo, que 80% das pessoas devem contrair o vírus e não terão sintomas graves ou até mesmo serão assintomáticos.

Com a paralisação já em andamento, conseguimos aplainar a curva de transmissibilidade, facilitando a ação de atendimento aos doentes graves. Então, não podemos estender demais esse fechamento e causar uma pandemia maior ainda de mortos e falidos. 

 

Maria Helena Lima Sousa
Economista, doutora em Saúde Coletiva e professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece)
Maria Helena Lima Sousa Economista, doutora em Saúde Coletiva e professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece)

Não

Considero equivocada a reabertura do comércio e a restrição do isolamento social, apenas a grupos de risco. É preciso entender que a Covid-19 não é uma "gripezinha". Trata-se de um vírus de alto poder de disseminação e cada pessoa, mesmo assintomática, pode contaminar em média, outras quatro, resultando numa propagação em escala exponencial.

A falta de sincronização de ação entre as esferas decisórias dificulta a obtenção de resultados mais efetivos e a aberta oposição do presidente da República cria obstáculos ao entendimento da doença por grande parte da população.

Outro problema consiste na alta subnotificação dos casos. Estimativa do Ministério da Saúde (MS) chega a 86%. Chama atenção o aumento da proporção de internações por síndrome respiratória aguda que saltou de 3% em 2019, para 80% neste ano, sugerindo que 77% das mortes sejam atribuídas ao coronavírus sem diagnóstico.

Com isolamento severo, muitas vidas serão salvas, ainda que com retração da economia, mas em condições de recuperação no curto-médio prazo por meio de intervenção do Estado. Relaxar nas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) acarretará explosão do número de casos, além do colapso do sistema de saúde. Empresários defensores do fim do isolamento estão dando um tiro no próprio pé, pois o caos é sempre o pior cenário para a economia. Além disso, aos que minimizam a morte de idosos, além de cruel, saibam que eles são responsáveis por 19% do sustento das famílias brasileiras.

A vantagem do Brasil sobre outros países é o SUS (Sistema Único de Saúde), mesmo com o subfinanciamento histórico e o processo de desmonte em curso. Mas é nele que o MS está se ancorando pra enfrentar o coronavírus. 

 

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