Escrevo não como médico, nem como gestor. Escrevo como familiar de paciente que enfrentou este vírus, que não é uma gripezinha qualquer. Desta nova doença sabe-se apenas que não poupa ninguém. Não escolhe classe social, cor, religião ou sexo. Podemos, didaticamente, dividir a evolução dos casos entre os assintomáticos/sintomas leves e os que têm queixas de febre persistente, fadiga, adinamia, tosse seca e rush cutâneo, que pode evoluir para desaturação, insuficiência respiratória e toxemia. Nada indica como a Covid-19 se comportará no organismo, uma verdadeira roleta-russa. Logicamente, idosos e portadores de doenças crônicas correm mais riscos, mas, por sorte, a maioria da população conseguirá se curar em casa. Os demais, ainda numerosos, precisarão de assistência médica hospitalar.
A pergunta correta não é se vou ter o vírus, mas quando vou ter. Por conta disso, o isolamento social é fundamental para que o registro de vítimas graves seja dividido em semanas ou meses, reduzindo o aporte simultâneo de pacientes aos hospitais.
Não pretendo criticar os que são contra a estratégia, mas, como profissional de saúde, quero que saibam que, seus filhos, irmãos, pais, avós e amigos poderão necessitar de um leito de UTI, de um respirador ou mesmo de um cuidado básico em meio à pandemia e que nós precisamos ter condições para tratar todos de uma forma igualitária.
Nós, médicos, enfermeiros, fisioterapias e demais trabalhadores da saúde, fomos capacitamos para exercer o dom que nos move: o de salvar vidas, independentemente das situações e de quem quer que seja. Estamos na linha de frente, nos dedicando, nos expondo, abdicando de coisas que muitos não fazem ideia, por este propósito: salvar vidas. Peço que não nos passem a penosa obrigação de escolher quem vai para uma UTI ou para um respirador mecânico e quem vai morrer. Não queremos carregar essa cruz em nossos jalecos. Em casos assim, os aplausos que estamos recebendo de nada valerão. Trocamos todos pela participação efetiva da sociedade. Fiquem em casa! Se protejam e protejam os seus.